“Um artista precisa de ser capaz
de fazer um gesto ousado, de ser corajoso. A arte proporciona
resistência. A arte não é activa nem passiva, a arte ataca – através do
meu trabalho artístico debato-me com a realidade em toda a sua
complexidade, macicez e incompreensibilidade.”
Thomas Hirschhorn
Em Anschool II Thomas Hirschoorn revisita e reapresenta
trabalhos realizados entre 1992 e 2005, na continuidade do projecto
apresentado no Bonnefantenmuseum, na Holanda (2005). O espaço do Museu
é transformado naquilo que poderia ser uma escola, com salas equipadas
com cadeiras, bancos, mesas, globos, mapas, televisores e textos
impressos. Anschool é um termo criado por Hirschhorn para designar uma
“não escola”, que rejeita os princípios de transmissão e formatação do
pensamento, na perspectiva de interrogar as possibilidades de
acessibilidade democrática ao conhecimento e à experiência.
Para Hirschhorn, a arte é inseparável da crítica política e social. Através do uso de elementos do dia a dia, de materiais precários, “pobres”, da organização de arquivos de imagens e textos, o artista denuncia a natureza consumista da sociedade contemporânea, dominada por informações e factos manipulados pelos media. Os materiais com que trabalha são aqueles que encontra à sua volta: cartão, jornais, plástico, folhas de alumínio, fita adesiva, fotocópias com frases manuscritas. As influências frequentemente referidas vão dos construtivistas russos a Kurt Schwitters, de Andy Warhol a Joseph Beuys.
O artista recusa o vocabulário formal tradicionalmente estabelecido pelas belas-artes, e desestabiliza as categorias de “escultura” e de “instalação”. Esta estratégia já estava presente nos “altares” construídos em espaços públicos, tais como os que dedicou a Raymond Carver (Fribourg, 1998) ou a Piet Mondrian (Geneve, 1997), entre outros. A criação de “Monumentos” que homenageiam autores cujo pensamento é incontornável para uma análise crítica do século XX – “Monumento Deleuze” (Avignon, 2000) e “Monumento Bataille” (Kassel, 2002), este último instalado num bairro social da cidade de Kassel – sublinham, na sua “crua banalidade”, a convicção de que a arte é acima de tudo um acto de resistência.
O percurso expositivo em Anschol II confronta o espectador com uma situação confusa e caótica, em que este se vê impossibilitado de assimilar todas as informações numa só leitura: a sobreposição de signos, logótipos, publicidade, textos do artista, de filósofos e poetas, ao lado de factos dramáticos, como a tortura e a guerra. Para o artista é importante mobilizar o público em torno de memórias colectivas, para lutar contra formas de opressão e alienação. A arte é para Hirschhorn uma máquina de guerra.
A sua obra anuncia uma série de estratégias de infiltração, de actos de guerrilha e de “sabotagem” da realidade. Esta posição não reivindica uma solução para os problemas do mundo, mas sim a criação de um espaço aberto, de reflexão e discussão, convocado através do desvio de situações, do humor, da ironia das palavras e das imagens. Neste sentido, a obra apresenta-se como algo que está em processo, deixando ao espectador a possibilidade de se implicar (ou não) nesta relação.
Thomas Hirschhorn afirma que não faz arte política, faz arte
politicamente. Em cada trabalho encontramos uma atitude crítica face às
estruturas de poder dominantes, bem como às estratégias de acumulação
do lucro – como por exemplo em Time To Go e Pilatus Transformator,
1997, com a fetichização do objecto de consumo de luxo (os relógios da
marca Suiça Rolex). A este “espírito do tempo” o artista contrapõe a
utopia e o empenhamento na transformação da realidade social -
“combater, atingir, afectar” - num projecto artístico em que a arte é
uma ferramenta para encarar o mundo.
08 NOV 2005 (Ter), 18h30
por João Fernandes
05 JAN 2006 (Qui), 18h30
por Miguel Pérez