Babette Mangolte documentou de forma criativa, através das suas fotografias e filmes, a cena artística de Nova Iorque da década de 70, criando algumas das imagens mais emblemáticas da dança pós-moderna norte-americana, a partir do trabalho de coreógrafos como Yvonne Rainer ou Trisha Brown e das performances e peças de teatro de artistas como Joan Jonas, Robert Morris, Richard Foreman, Robert Wilson, entre outros.
Como cineasta, Mangolte é autora de uma obra cinematográfica original, assente em alguns eixos principais: uma reflexão sobre a representação do movimento e das suas passagens e sobre as questões ligadas à documentação, ao registo e reconstituição de eventos de performance e de dança; as relações entre o cinema e a fotografia e o interesse pela utilização da câmara subjectiva e pelos regimes e hierarquias de género e poder na representação visual; e finalmente, a sua prática de filme de paisagem, patente nos seus ensaios sobre a costa oeste dos Estados Unidos e a vida nos subúrbios urbanos.
O seu trabalho inconfundível de direcção de imagem contribuiu para a singularidade dos filmes em que colaborou, nomeadamente nos filmes de Chantal Akerman (como Jeanne Dielman, 23 quai du Commerce, 1080 Bruxelles, 1975, News from Home, 1977, Un Jour Pina a demandé, 1984, entre outros), dois filmes de Yvonne Rainer (Lives of Performers, 1972 e A Film About a Woman Who, 1974) bem como nas suas colaborações com Marcel Hanoun, Michael Snow, Jean-Pierre Gorin, Sally Potter, entre outros.
Ultimamente Mangolte tem-se concentrado no seu trabalho de instalação em que reflecte os diferentes aspectos da sua obra a partir do seu método de trabalho e do seu arquivo de imagens e filmes.
PROGRAMA
1ª SESSÃO - O MOVIMENTO COMO PASSAGEM: FILMES DE DANÇA
13 MAI 2011 (Sex), 21h30
Slide Show, 2010, 15’, vídeo
Water Motor, 1978, 7’, 35mm (coreografia e interpretação, Trisha Brown)
Calico Mingling, 1973, 20’, 16mm (em vídeo) (coreografia, Lucinda Childs)
Yvonne Rainer AG Indexical with a little help from H.M., 2007, 44’, vídeo
Filmes realizados por Babette Mangolte
A sessão reflecte o método de abordagem de Babette Mangolte ao filme de dança e à questão da representação e análise do movimento dançado. Slide Show é uma projecção de uma série de fotografias seleccionadas a partir do arquivo de imagens de Mangolte que procura salientar o vocabulário de movimentos utilizados pela geração de artistas do Judson Dance Theater e reflectir sobre a documentação de espectáculos e performance. Os dois filmes seguintes são exemplos notáveis do trabalho da realizadora, o seminal Water Motor, a partir do solo homónimo de Trisha Brown dançado em 1978 e Calico Mingling uma adaptação para cinema de uma peça de grupo de Lucinda Childs. O último filme é uma reflexão sobre as escolhas pós-modernas da coreógrafa Yvonne Rainer e a sua releitura da coreografia Agon de George Balanchine dançada por três bailarinas de dança moderna em interacção com uma bailarina clássica.
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OFICINA - IMPROVISAÇÃO E A CÂMARA
14 MAI 2011 (Sáb), 15h00-19h00
Babette Mangolte, a quem se dedica um ciclo em Serralves, aceitou a proposta de desenvolver uma oficina no âmbito do programa Improvisações / Colaborações, reflectindo acerca da noção e prática da improvisação no seu trabalho em geral e especificamente nos seus filmes de dança e performance. A oficina dirige-se a todos os que se interessam pela história das práticas de documentação de performance e dança e sobre o cruzamento entre o cinema, a fotografia e a arte em geral, dum ponto de vista teórico, mas também prático e concreto.
Informamos que as inscrições para esta Oficina se encontram encerradas.
2ª SESSÃO - A CÂMARA: EU
15 MAI 2011 (Dom), 21h30
Glass Puzzle, de Joan Jonas, 1968, 17’, vídeo
The Camera: Je or La Caméra: I, de Babette Mangolte, 1977, 88’, 16mm
sessão seguida de conversa entre Babette Mangolte e Luciana Fina (realizadora e artista visual).
Mangolte descreve The Camera: Je or La Caméra: I como uma exploração da realização de um filme do ponto de vista de uma fotógrafa/cineasta: ‘O filme é literalmente a câmara.’ É um retrato da produção artística de Mangolte, bem como um filme sobre a relação entre o corpo e a sua encenação fotográfica e fílmica e sobre a sua própria vida entre duas línguas e culturas. De modo pouco comum para um filme comercial e estruturalista, The Camera: Je, La Caméra: I, segundo Mangolte, tentava “exprimir algo que está sub-representado na cultura mainstream ou no trabalho experimental [...], tal como realizar um filme sobre o trabalho da fotografia a partir da perspectiva do fotógrafo.”
A sessão abre com um filme característico da obra de Joan Jonas deste período, filmado em vídeo por Mangolte e interpretado por Jonas e Lois Lane, num trabalho complexo e enigmático que explora os gestos femininos, as poses, o corpo e o narcisismo. Ao espelhar os comportamentos uma da outra com movimentos sincronizados, Jonas e Lane referenciam os gestos femininos e as poses da cultura popular e tradicional.
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3ª SESSÃO - APRESENTAR, RECONSTITUIR
17 MAI 2011 (Ter), 21h30
sessão seguida de conversa entre Babette Mangolte e João Fernandes, Director do Museu de Arte Contemporânea de Serralves.
Four Pieces by Morris, de Babette Mangolte, 1994, 94’, 16mm
O filme é uma reconstituição das performances seminais feitas no início dos anos 60 pelo escultor Robert Morris. Para a realizadora a problemática residiu em criar um filme, que anos mais tarde, conseguisse transmitir um sentido da estética de outra geração sem a desvirtuar ao transformá-la. O filme inclui as performances Site, Arizona, 21:3 e Waterman Switch.
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4ª SESSÃO - O QUARTO, A CIDADE
18 MAI 2011 (Qua), 21h30
La Chambre, de Chantal Akerman, 1972, 11’, 16mm
News from Home, de Chantal Akerman, 1977, 95’, 16mm
News from Home de Chantal Akerman, 1977, 95’, 16mm
Dois filmes com imagem de Babette Mangolte. Akerman disse a propósito de News from Home: “Vivi em Nova Iorque pela primeira vez durante um ano e meio e durante todo este tempo recebi cartas da minha mãe. Em relação ao que estava a viver, em relação a Nova Iorque, era muito comovente. Como uma espécie de lamento-amoroso, repetitivo, sempre a acompanhar-me. Para a minha mãe, que é da velha Europa, a América é ainda o mito da Nova América. O filme parece-me muito europeu… É um filme sobre estar descentrado e isso é evidente na construção do filme. De um modo geral, mas não sistematicamente, o filme é composto de planos no metro e no exterior. E nunca sabemos onde estamos, nunca. A mesma construção surge ao nível do som…É como uma cantiga de amor que escutamos ou não, e ao mesmo tempo como algo que se esvai…” Em La Chambre, o primeiro filme de Chantal Akerman, “uma longa e lenta panorâmica descreve diversas vezes o espaço de um quarto em que vemos Chantal Akerman sentada na cama e a comer uma maçã. É um auto-retrato misterioso em que a cineasta surge no seu lugar predilecto que equivale no seu cinema a uma natureza morta: acumular motivos ‘mobiliários’, para deles dispor numa descrição repetitiva.”
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Para mais informações relativas ao trabalho de Babette Mangolte, por favor consultar:
www.babettemangolte.com
Preçário do Ciclo: 3 euros por sessão (bilhete único)
O programa está sujeito a alterações.