A primeira retrospetiva integral de José Álvaro Morais no Porto decorrerá ao ar livre, no Parque de Serralves, constituindo uma oportunidade única para redescobrir uma obra maior e ver projetadas a Norte imagens do Sul. Poucos foram os realizadores que terão conseguido interrogar o país de forma tão livre e luminosa. A mostra inicia-se com a estreia de Silêncios do Olhar, documentário de José Nascimento que propõe uma aproximação ao processo criativo do realizador e à singularidade do seu universo, seguindo-se uma apresentação cronológica dos filmes de José Álvaro Morais. A viagem e o exílio, as raízes culturais e o espírito do lugar, a tensão entre pertença e evasão, são alguns dos pontos de fuga que atravessam esta obra onde se pensa o magnetismo de um país que atrai tanto quanto repele.
Curadoria: António Preto
Acesso: 3€ ou mediante aquisição de bilhete ParqueAmigos de Serralves: 1,5€
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18 JUL (TER): "Cantigamente n.º3"
Cantigamente n.º 3 | Portugal, 197616mm | cor | 85 min.A obra de José Álvaro Morais, realizada toda ela já em democracia, inicia-se com duas encomendas para a televisão, Domus de Bragança (1975) e Cantigamente (1976), filmes que evidenciam o interesse do cineasta pela montagem visual e sonora.
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24 JUL (SEG): "O Bobo"
O Bobo | Portugal, 198716/35mm | cor | 123 min.José Álvaro Morais trabalhou também processos de preparação e de escrita com uma longa maturação, como é o caso de O Bobo (1987), onde o texto de Alexandre Herculano sobre a fundação da nacionalidade serve para perspetivar historicamente as contradições do Portugal contemporâneo. Rodado quase integralmente em estúdio, o filme é uma das produções mais ambiciosas e atribuladas do cinema português (o negativo ficou guardado nas câmaras derefrigeração da Tobis durante seis anos, por falta de financiamento) tendo sido milagrosamente concluído minutos antes de ganhar o Grande Prémio do Festival de Locarno.
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27 JUL (QUI): "Peixe Lua"
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Quaresma | Portugal, 200335mm | cor | 95 min.A viagem e o exílio, as raízes familiares enlaçadas com a memória e o espírito do lugar, a aceitação e a recusa da terra onde se nasceu, a tensão entre pertença e evasão são pontos de fuga a que José Álvaro Morais regressa em Quaresma (2003). Neste seu último filme, situado entre a casa dos avós, na Covilhã, e as frias paisagens da Dinamarca, enterra-se definitivamente e sem resposta a melancólica questão, pessoal e nacional, que atravessa toda a sua obra: o magnetismo de um país que atrai tanto quanto repele, as razões profundas que, como se vê no final de O Bobo, levam os portugueses a sair de Portugal para "ser caricatura desta terra noutra terra”.