Ciclo "Manoel de Oliveira: Grande Plano - Toda a Obra"

de 10 NOV 2015 a 12 DEZ 2015
A obra de Manoel de Oliveira impressiona. A retrospetiva integral que agora se apresenta, numa iniciativa do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto, co-organizada com a Fundação de Serralves e contando, ainda, com a participação de outros agentes culturais da cidade, constitui uma oportunidade excecional para descobrir ou rever todos os filmes de Oliveira, por ordem cronológica e nos seus suportes originais. Ao mesmo tempo, concentrando esta mostra intensiva no mês que antecede o aniversário do realizador – data que a cidade se habituou a festejar –, a retrospetiva Manoel de Oliveira: Grande Plano celebra a memória do homem, a intransigência do artista e a vitalidade da obra, um legado que atravessa o presente para se projetar na posteridade que agora começa. 
Sendo esta a primeira retrospetiva integral que postumamente se realiza, ela tem um caráter forçosamente definitivo, na medida em que não haverá mais filmes, assumindo porém como compromisso que a obra seja reativada por novos olhares: a filmografia de Manoel de Oliveira está fechada, mas a obra nunca estará concluída. O cinema é a arte da instabilidade do olhar e o modo como os filmes de Oliveira desafiam as contingências do tempo, como atualizam o passado em diálogo com as contradições do presente, chama-nos à responsabilidade de fazer da memória ativa uma memória atuante.Definitivamente, uma obra – por mais monumental que ela seja, como é o caso – só sobreviverá à patrimonialização se se oferecer, sem reservas, à perplexidade, condição para que nos interpele na sua inteligência e possa continuar a emocionar-nos. 
Manoel de Oliveira sempre foi, e ao longo de mais de um século, um artista do seu tempo – o que, por si só, faz dele o mais persistente dos contemporâneos –, modernista por princípio, moderno por convicção, controverso por vocação. O percurso sequencial através da sua extensa obra, tão improvável quanto paradoxal, permite perspetivar o caso singular desse grande inventor de formas que, por um lado, condensa, num só plano, cem anos de cinema e, por outro, age como se todo o cinema tivesse de recomeçar a cada filme. Um percurso acompanhado por uma coletânea de textos – já publicados ou inéditos – que abrem pistas de leitura e perspetivas críticas diferenciadas, enfatizando o modo como, avesso a modas ou consensos e quase sempre em contramão, Oliveira participou, internacionalmente, das discussões que marcaram o cinema como arte em formação, ao mesmo tempo que dialogava com a atualidade política do país. Um percurso irregular e fora da norma, que traduz uma permanente insatisfação, dúvidas irresolúveis e uma procura que nunca sucumbiu ao autocomprazimento, nem evitou as mais difíceis contradições e mudanças de rumo (aí assenta a sua extrema coerência); que contrapõe a intensa produção das décadas mais recentes (como os dezoito filmes, dos quais onze longas metragens, realizados entre 2000 e 2010, quando Oliveira ultrapassara já os noventa anos de idade), aos longos períodos de interrupção, em que foi impedido de filmar (catorze anos de silêncio entre Aniki-Bóbó e O Pintor e a Cidade); ou confronta superproduções como Amor de Perdição, Le Soulier de Satin e NON ou a Vã Glória de Mandar, com os filmes em que o cineasta assegura, muitas vezes só e com meios reduzidos, todas as vertentes da produção e realização, como na maioria dos casos foi regra até 1971.Um percurso que demonstra a incomplacência de Oliveira com os poderes (cedo notada), que sublinha a radicalidade do seu cinema no olhar que lança sobre si próprio, sobre os seus alicerces, aspirações e limites, nas relações que estabelece com as outras artes. Sem esquecer o humor agudo com que se empenha na desmontagem irónica das convenções, da erótica social entre classes e no questionamento impiedoso da institucionalização das relações amorosas e do desejo, força disruptiva e revolucionária, quase sempre condenada à frustração. Um percurso que, em suma, sintetiza a história do cinema ao mesmo tempo que problematiza as relações que o cinema foi mantendo com a História.
Os que tiveram o privilégio de ser contemporâneos de Manoel de Oliveira terão agora também a oportunidade (e a responsabilidade) de conhecer toda a sua obra, que é de todos e que a todos diz ou dirá respeito.
Coordenador editorial e consultor de programação: António Preto

Bilhetes: 3€Amigos de Serralves: desconto de 10% nos bilhetes de sessão e no passe (válido apenas na Fundação de Serralves).



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FICHA TÉCNICA PROGRAMAÇÃO: Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto, Fundação Serralves - Museu de Arte ContemporâneaORGANIZAÇÃO: Pelouro da Cultura da Câmara Municipal do Porto, Fundação Serralves - Museu de Arte ContemporâneaCOORDENADOR EDITORIAL E CONSULTOR DA PROGRAMAÇÃO: António PretoCOORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO: Sérgio MarquesDESIGN GRÁFICO: And AtelierLEGENDAGEM E TRADUÇÃO: Amarante Abramovici
AGRADECIMENTOS: António Menéres, Barberine Feinberg, Bernard Despomadères, Clemente Menéres, Maria João Mayer, Mariana Pimentel, Sara Moreira, Saul Rafael, Teresa Sampaio, aos autores dos textos para as folhas de sala, Biblioteca Pública Municipal do Porto e toda a família de Manoel de Oliveira.
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