CineconcertoEdgar Pêra e Tó Trips
Desde 1990 que Edgar Pêra realiza cineconcertos, atuações ao vivo e em direto que, em colaboração com músicos em palco, radicalizam a vertente performativa e a estética do inacabado, transversais a toda a sua obra. Decorrendo da frustração de não poder modificar, em permanência, o trabalho realizado e atentando contra a própria noção de "obra”, os cineconcertos permitem ao cineasta remontar filmes antigos, dando-lhes sentidos inesperados através da sua combinação com outras imagens e músicas, ao mesmo tempo que possibilitam uma reconfiguração dos processos de participação ou identificação espetatorial e do efeito-espelho das salas de cinema convencional, respondendo à utopia de ter, num mesmo ecrã, a reflexão simultânea das imagens do filme e do espetador (literalmente integrado no filme). Uma das características fundamentais dos cineconcertos é a atuação ao vivo de músicos durante a projeção de um filme. No entanto, ao contrário do que era comum no cinema primitivo – onde os músicos eram relegados para segundo plano –, nos cineconcertos de Edgar Pêra os músicos ascendem ao ecrã, partilhando, com o público a condição de agentes e de imagem, numa confusão dos estatutos de espectador e espectáculo. O cineconcerto cumpre, assim, o velho desígnio de fazer do cinema o "espelho da realidade”, na medida em que reflete e atualiza, efetivamente, a única realidade possível: a realidade concreta da sala de cinema, num circuito fechado onde se desmontam os princípios da ilusão cinematográfica. Além disso, o cineconcerto é um acontecimento único e irrepetível que reage às condicionantes singulares do momento de apresentação, através da manipulação ao vivo de imagens pré-montadas, sobrepostas a outras imagens filmadas em direto, podendo, por isso, ser entendido como uma variante interativa do cinema expandido.No cineconcerto agora apresentado em Serralves, Edgar Pêra revisitará alguns momentos da saga Sudwestern, concebida em parceria com Tó Trips.
Esta sessão está integrada no ciclo de cinema EDGAR PÊRA: UMA RETROSPETIVA.