INAUGURAÇÃO DA EXPOSIÇÃO DE MIRA SCHENDEL

28 FEV 2014
Entrada livre.

Esta será a primeira grande exposição em Portugal de Mira Schendel. Pouco conhecida no nosso país – apesar de aqui ter apresentado trabalhos desde o ano de 1966, quando expôs na Livraria Bucholz, em Lisboa –, ela é uma das artistas latino-americanas mais prolíficas e significativas, tendo abordado de uma forma muito singular, ao longo da sua notável carreira artística, temas relacionados com a linguagem e com o significado. Contemporânea de Lygia Clark e de Helio Oiticica, com eles contribuiu para redefinir a linguagem do modernismo europeu no Brasil.  A presente exposição, ao agrupar mais de 200 pinturas, desenhos e esculturas da artista, alguns apresentados pela primeira vez, constitui uma inédita oportunidade para avaliar a extensão e a importância da multifacetada carreira de Schendel.

Arte é nostalgia de Deus, não precisa pintar aquilo que vê,
nem aquilo que se sente, mas aquilo que vive em nós [...].
Tanta dor me levou a um meio de expressão. Não sei se
minha pintura é grande, só sei que é arte.
Mira Schendel


Nascida em Zurique (Suiça) em 1919, Schendel viveu em Milão e em Roma antes de emigrar para o Brasil em 1949. Em 1953, estabeleceu-se em São Paulo, cidade onde viveu e trabalhou até à sua morte em 1988.  A experiência precoce de deslocações culturais, geográficas e linguísticas é evidente no seu trabalho, bem como o seu interesse pela história da religião e pela filosofia. Além de ajudar a criar um círculo de intelectuais oriundos de áreas do conhecimento tão diversas quanto a psicanálise, a literatura e a filosofia – muitos deles, como Vilém Flusser, judeus emigrados, tal como ela – Schendel correspondeu-se com diversos intelectuais europeus, casos de Max Bense e Umberto Eco.

Em Serralves, podem ver-se as primeiras pinturas da artista, produzidas entre 1955 e 1965, exibidas muito raramente e que ajudam a perceber a importância, ao longo da sua carreira, do confronto entre impulsos figurativos e complexidades geométricas. Outra característica comum a todo o trabalho de Schendel, e que esta exposição ilustra exemplarmente, é a tensão entre a fragilidade dos materiais empregues e a força com que são transmutados em esculturas. Paradigmática desta dialética é a conhecida série Droguinhas (1965-66), composta por esculturas feitas de papel de arroz, expostas originalmente na Signals Gallery, Londres, em 1966. A importância da linguagem escrita, outro dos recursos amplamente explorados pela artista, está bem patente nos seus Objetos Gráficos, apresentados pela primeira vez na Bienal de Veneza de 1968, e que têm na linguagem e na poesia os seus elementos primários. A exposição também apresenta trabalhos muito importantes pela relação que estabelecem entre corpo e espaço, como emblemáticas instalações –   Ondas Paradas de Probabilidade (1969) e Variantes (1977) são dois exemplos maiores – e a sua última série de pinturas abstratas.

Comissariado: Tanya Barson e Taisa Palhares
Exposição organizada por Tate Modern e Pinacoteca do Estado de São Paulo em associação com a Fundação de Serralves - Museu de Arte Contemporânea, Porto

Imagem: Mira Schendel, Objeto gráfico, c. 1968. Óleo e decalque sobre papel de arroz e acrílico. 100 x 100 cm. Daros Latinamerica Collection, Zürich. Fotografia: Peter Schälchli, Zürich, cortesia Daros Latinamerica.
Mecenas Exclusivo do Museu Apoio Projeto "Serralves Ecossistema Criativo" co-financiado por:
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