Programação: António Preto
Jonas Mekas (Lituânia, 1922) é, incontestavelmente, o mais importante realizador do cinema de vanguarda norte-americano. Em fuga aos nazis, Mekas abandona a Lituânia em 1944, acompanhado pelo irmão, tendo vivido cinco anos de errância entre um campo de trabalho forçado na periferia de Hamburgo, uma quinta próxima da fronteira com a Dinamarca, onde se esconderam, campos de deslocados no meio de uma Alemanha devastada pela guerra e uma breve passagem pela Universidade de Mainz, onde estudou filosofia. Quando finalmente chega aos Estados Unidos da América, em 1949, Mekas pede dinheiro emprestado e compra uma câmara Bolex de 16mm para registar momentos da sua vida nos bairros pobres de Brooklin, onde procura trabalho. Depois de travar conhecimento com Amos Vogel, ele próprio refugiado de guerra e fundador do Cinema 16, cineclube de vanguarda que Mekas frequenta com assiduidade, os acontecimentos sucedem-se a grande velocidade: para além das ligações ao movimento Fluxus, liderado pelo seu conterrâneo George Maciunas, foi um dos fundadores da influente revista Film Culture, do New American Cinema Group, da Cooperativa de Realizadores e do Anthology Film Archives, em Nova Iorque. Mantendo uma estreita colaboração com artistas como Andy Warhol, Yoko Ono, John Lennon, Allen Ginsberg, Kenneth Anger, Jack Smith, Stan Brakhage, entre outros, Mekas trona-se, desde meados dos anos 1950, um dos protagonistas e principais impulsionadores do undergroud nova-iorquino.
Defendendo uma estreita colaboração entre as artes – sendo ele próprio multifacetado: cineasta, poeta, crítico, curador... – Mekas é igualmente um dos artistas que mais entusiasticamente pôs em prática alguns dos ideais que polarizaram as segundas vanguardas, como a criação colectiva ou a confluência e indistinção entre arte e vida. Donde, um cinema diarístico, directo, cru, que persegue a pureza do amadorismo, muitas vezes assente na improvisação e intimamente ligado às vivências quotidianas, através do qual redefine o estatuto e as funções da arte. Um cinema a que prefere chamar poético (mais do que de vanguarda e, ainda menos, experimental), que assume, radicalmente, por horizonte libertar-se de constrangimentos narrativos e formais para explorar ao máximo as possibilidades expressivas do médium. Sobretudo, um cinema que se afirma como veículo de abertura a novas formas de experiência estética, de inteligência do real, e que preconiza, por isso, uma visão humanista das funções da cultura: democrática, feita por todos e para todos, entendida como libertação (e não como opressão). Mekas é, convictamente, o último dos românticos. Numa relação dialéctica com o social, a arte deve contribuir para a emancipação da experiência e plena concretização do humano. Trata-se, como o próprio o sintetiza num dos seus primeiros artigos para o The Village Voice, em 1959, de combater o horror com a beleza e de aprender a olhar para o mundo outra vez.
Cinema da empatia com o mundo e com o outro, impulso de transfiguração do banal em maravilhoso, o cinema de Jonas Mekas não é só uma hipótese de fuga ao desenraizamento que marcou o século XX e que volta hoje a ser dramaticamente actual. É urgência de um compromisso com a história. Da sua vastíssima produção, desenvolvida, ao longo dos últimos sessenta anos, em múltiplos meios e suportes, apresentaremos em Serralves uma selecção de filmes, dos mais recentes aos mais emblemáticos, que marcam a singularidade do seu trabalho e reposicionam o cinema de vanguarda como cinema na linha de fogo.
Preço:Por sessão:Preço normal - 3€Preço para Amigos de Serralves, maiores de 65 e estudantes - 1,5€
Ciclo integral - 9 sessões:Preço normal -20 euros Preço para Amigos de Serralves, maiores de 65 e estudantes - 10 euros
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