Conferência de lançamento do volume O Bem nas Coisas. A publicidade como Discurso Moral, seguida de uma conversa entre o autor e Pedro, A.H. Paixão (editor), Jorge Leandro Rosa (editor e tradutor) e Bernardo Pinto de Almeida.
Ver, deixar agir o ato de visão como parte de uma vida animal, que é muito mais do que uma vida de sujeito, é uma operação de inquietação. Não há motivos para não aproximar a visão do ato de pensamento, até que se toquem e possam gerar um gesto de pura sobrevivência que lhes seja comum. Desde A Vida Sensível (2010), Emanuele Coccia tem vindo a restaurar o império do sensível sobre o inteligível, reavaliando-os e misturando as categorias que estamos habituados a convocar diante deles: «A nossa existência – dormindo ou em vigília – é um mergulho ininterrupto no sensível. São os sensíveis – as imagens das quais não deixamos de nos nutrir e que não param de alimentar a nossa experiência diurna ou onírica – que definem a realidade e o sentido de todo o nosso movimento».Não é, então, de estranhar que este O Bem nas Coisas, agora publicado em português, prolongue essa ousadia, dissolvendo a abstração do discurso económico e da sua crise inerente. Na nossa civilização «obcecada pelas coisas», os objetos, sejam eles de uso comum ou estético, vieram a adquirir uma existência moral incontornável. No livro que agora se apresenta, Coccia aponta uma radical deslocação das nossas operações de sentido, um processo que prolonga e generaliza as deslocações que as artes haviam feito nos últimos cem anos. A vida moral das mercadorias é, afinal, uma metamorfose conjunta do ético e do estético.
Nenhum lugar seria mais indicado do que Serralves – um espaço dedicado aos objetos contemporâneos – para apresentarmos esta vida moral das coisas, afinal, e sempre, uma vida estética que readquire prorrogativas esquecidas.
O Bem nas Coisas. A publicidade, como discurso moral de Emanuele Coccia é o IV volume da coleção "Disciplina sem nome" dirigida por Pedro A.H. Paixão para a editora Documenta; um projeto editorial, sobre pensamento e teoria, de desenho da Fundação Carmona e Costa na editora Documenta.
Organização: Fundação Carmona e Costa e editora Documenta, com o apoio da Fundação de Serralves e do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto
Acesso: gratuito
Emanuele Coccia
Pedro A.H. Paixão
Jorge Leandro Rosa
Bernardo Pinto de Almeida
Emanuele Coccia (1976) é Professor Auxiliar na École des Hautes, Études en Sciences Sociales, em Paris. Das suas publicações, traduzidas em diversas línguas, destacam-se A vida sensível, (2010), Le bien dans les choses (2013) e La vie des plantes (2016). Foi coeditor com Giorgio Agamben da antologia monumental, Angeli. Ebraismo Cristianesimo Islam (2009).
Pedro A.H. Paixão é artista plástico, investigador e editor. É membro do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. O seu trabalho artístico é representado pela Galeria 111 em Lisboa. Fundou e dirige o projeto editorial Disciplina Sem Nome para a editora Documenta, com o apoio da Fundação Carmona e Costa, Lisboa.
Jorge Leandro Rosa é ensaísta e tradutor. Colabora regularmente em revistas culturais nacionais e estrangeiras, sendo ainda co-editor da revista Nada. Atualmente, é investigador do Instituto de Filosofia da Universidade do Porto. Tendo sido professor do ensino superior, atividade que ainda exerce irregularmente, prefere hoje respeitar a diversidade dos regimes de ventos.
Bernardo Pinto de Almeida é Professor Catedrático da Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto. Publicou nos domínios do ensaio, da poesia e da literatura infantil. Dedicando-se à História e à Teoria da Arte, tem repartido a sua atividade pelos mais diversos aspetos da atividade cultural e literária. Recentemente, orientou a montagem da primeira exposição do Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves, tendo também realizado o filme «Nadir, o Arquiteto».