Chegados ao MOMENTO XIX do ciclo O SABOR DO CINEMA, continuamos a privilegiar a dimensão de resistência no gesto de mostrar filmes. É porque o encontro entre a obra e o espectador permanece singular que persistimos na ideia de que as projecções-conversa (precedidas de apresentação e seguidas de debate) são enriquecedoras para o filme (que não existe sem público) e para o público (constituído por indivíduos que eram diferentes antes de terem participado, enquanto tais, numa experiência colectiva). Situando a «causa amante» deste ciclo – que há quase uma década se vem prolongando – no terreno da política, desafiamos os espectadores fiéis, infiéis e vindouros a virem saborear filmes cujo traço comum é a vitalidade, quer ela se prenda directamente com o gesto de realizar (pequena mostra de formas breves produzidas em moldes que escapam ao sistema instituído – e insuficiente – de apoios), quer ela seja parte das tramas narrativas em que, de vários modos, se finta a brutalidade do destino, se enfrenta a irrisão da morte, se ritualiza o olhar a fim de, paradoxalmente, o despir de convenções. Falamos das curtas-metragens de um punhado de cineastas dispostos a honrar, com filmes fora dos géneros e fora dos eixos aquilo que poderíamos designar como a nobre tradição do cinema pobre. Falamos de dois filmes rodados em terras de raia, perpetuando rotinas e ritos que o olhar citadino ora rejeita, ora folcloriza. Falamos do Mestre Kurosawa que, como Hitchcock, mas de um modo muito seu e outro, problematiza questões como a verdade, o ponto de vista e a construção do relato. A fechar este momento, deixamos uma interpelação, através do injustamente pouco conhecido QUE FAREI EU COM ESTA ESPADA? de João César Monteiro (1975), um filme militante no sentido vital que Brecht ou Godard atribuem ao fazer política.
Associação "Os Filhos de Lumière”
O SABOR DO CINEMA é um ciclo projecções - conversa organizado pelos "Filhos de Lumière”, que propõe o visionamento e a discussão de filmes de todos os géneros, origens, épocas e durações. Para que esses mesmos filmes continuem a produzir pensamento(s) fora dos trilhos do mercado audiovisual.
Entrada gratuita mediante levantamento de bilhete na recepção de Serralves.
Por motivos de força maior o programa poderá ser alterado.