O SABOR DO CINEMA: MOMENTO XXIII

de 27 JAN 2013 a 21 ABR 2013

O MOMENTO XXIII do ciclo sazonal de projeções-conversa O SABOR DO CINEMA propõe-se abraçar o tema das relações entre cinema e literatura, evitando contudo colocar a tónica na adaptação e no lugar-comum da passagem do romance ao ecrã. Donde esta escolha de uma dúzia de filmes que disparam em muitos sentidos, desde a proposta de chaves para a leitura de uma obra poética através dos traços biográficos que esta mesma ficciona – como é o caso do ensaio visual de Ginette Lavigne que nos dará a honra da sua presença – ao monumento cinematográfico-musical que Paulo Rocha, recém-falecido, construiu a partir da vida do muito peculiar escritor Wenceslau de Moraes. Sophia pela mão de João César Monteiro, José Régio pelo olhar de Manoel de Oliveira; o poeta e músico arménio Sayat Nova evocado por Paradjanov; o cómico Buster Keaton convocado pelo dramaturgo Samuel Beckett; o casal Huillet-Straub meditando acerca da relação entre os deuses e os homens através do texto de Cesare Pavese; Duras desdobrando-se em Aurélia Steiner e desdobrando esta última em várias personagens; Saguenail multiplicando os atores da paixão de Cristo pelo número de enquadramentos de um filme; Pasolini refletindo sobre imagens filmadas em busca de atores para uma Oresteia africana — em suma, um conjunto de obras instáveis em que os meios artesanais do cinema são encarados como ferramentas de escrita. A ver e conversar.

Programação: Associação "Os Filhos de Lumière”Acesso: Entrada gratuita mediante levantamento de bilhete na receção de Serralves. Nota: Os bilhetes são disponibilizados no próprio dia da sessão.
(Por motivos de força maior o programa poderá ser alterado.)

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN DE JOÃO CÉSAR MONTEIRO, 19', 1969, Portugal
LA BELLE JOURNÉE DE GINETTE LAVIGNE, 67', 2010, França
A sessão contará com a presença da realizadora Ginette Lavigne.

Sophia carregando os fardos da matriarca ao mesmo tempo que as vestes da poetisa, desvendada pela câmara maliciosa de João César Monteiro. O poeta Christian Prigeant entrevisto através de uma dupla leitura: a dos seus textos autobiográficos pelo autor e a que Ginette Lavigne imageticamente deles faz, privilegiando a mise à nu das experiências fundadoras da descoberta carnal da vida e do amor.




ROMANCE DE VILA DO CONDE E O POETA LOUCO, O VITRAL E A SANTA MORTA DE MANOEL DE OLIVEIRA, 1959 e 2008, Portugal
SAYAT NOVA DE SERGEI PARADJANOV, 79', 1968, URSS/Arménia

O José Régio, encenado por Manoel de Oliveira, na sua seminal relação poética com Vila do Conde. A vida e os versos do trovador arménio Sayat Nova traduzidos para quadros mágicos de cinema pelo pelo artesão cineasta e poeta cinematográfico Sergei Paradjanov: da infância do famoso ashik, entre lãs e pigmentos de tinturaria, à sua transformação em monge…



AURELIA STEINER/MELBOURNE DE MARGUERITE DURAS, 28', 1979, França
QUEI LORO ENCONTRI DE STRAUB/HUILLET, 68', 2006, França

MELBOURNE é uma das duas versões cinematográficas dos cânticos que compõem o texto-tríptico «Aurelia Steiner». Marguerite Duras entrelaça narrativas, cruzando vivências de várias personagens femininas inclusive algumas extraídas da sua própria vida. A partir dos cinco últimos «Diálogos com Leucò» de Cesare Pavese, o casal Huillet-Straub encena, no cenário de uma floresta, uma meditação sobre a situação dos humanos na sua relação com os deuses.




A IMITAÇÃO DE SAGUENAIL, 26', 2003, Portugal
NOTAS PARA UMA ORESTEIA AFRICANA DE PIER PAOLO PASOLINI, 65', 1970, Itália

Num bar chamado Golgota, Saguenail encena uma paixão de Cristo revisitada por Malcolm Lowry, recorrendo a tantos figurantes quantos dias tem um ano, a fim de produzir uma espécie de retrato da humanidade. Em busca de actores africanos para a trilogia trágica de Ésquilo, Pasolini filmou este caderno de apontamentos no decorrer de duas estadas no Uganda e na Tanzânia. O filme Oresteia nunca virá a existir; em contrapartida, os planos filmados em África servem de motivo de reflexão ao autor que por fim as submete à apreciação de estudantes negros da universidade de Roma.




FILME DE SAMUEL BECKETT, 20', 1965, USA
O MEU CASO DE MANOEL DE OLIVEIRA, 92', 1986, França/Portugal

Única experiência fílmica de Beckett – que para ela recorre ao Buster Keaton, o cómico que nunca sorria – FILM apresenta-se como um ensaio sobre o terror de ser visto e de ver, explorando com grande mestria a arte do desapontamento. Filme-manifesto do mestre Manoel de Oliveira acerca das relações entre teatro e cinema, a partir da peça homónima de José Régio, de fragmentos de Beckett e do «Livro de Job», O MEU CASO consegue ser também um balanço pessoal, um grito de denúncia da destruição do homem pelo homem, uma meditação sobre as relações do homem com Deus, um ensaio sobre o enquadramento e a profundidade de campo, um contributo para uma teoria da representação, uma reflexão sobre o som no cinema, etc. etc. etc. Golpe de mestre e golpe de misericórdia.
Nota: esta sessão será apresentada por António Preto




A ILHA DOS AMORES DE PAULO ROCHA, 170', 1982, Portugal

Grande voo de Paulo Rocha e do seu actor dilecto Luís Miguel Cintra, a ILHA DOS AMORES abraça a época, a obra, os amores, a vida e a morte de Wenceslau de Moraes, reunindo num só objecto de indizível fulgor o imaginário romântico ocidental, a imagética oriental, a grande poesia japonesa, a visão camoniana, etc. Construído em nove cantos, o filme desafia qualquer tentativa de classificação, conjugando na sua partitura o gosto pela collage e as dinâmicas do barroco. Dez anos de gestação fizeram deste objecto ímpar um exemplo sui generis de fusão da arte com a vida…







O SABOR DO CINEMA: MOMENTO XXIII
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