Esta exposição, dedicada à pioneira bailarina e coreógrafa norte-americana Trisha Brown, mostra-nos - através de documentação vídeo e de um programa de filmes feitos a partir da sua obra, e que apresentam nas galerias do museu alguns dos seus trabalhos mais icónicos - aquela que foi uma reinvenção radical da dança nos anos de 1960-70. Fundadora do Judson Dance Theater - juntamente com, entre outros, Yvonne Rainer, Lucinda Childs e Steve Paxton, Brown inventou, na década de 1960, um léxico totalmente novo de movimento: extremamente económico, baseado em gestos do quotidiano, estruturado pela obediência a regras muito simples, a instruções básicas. Um exemplo paradigmático são as suas Accumulation Pieces, em que um gesto, aparentemente banal, desprovido dos virtuosismo e habilidade normalmente associáveis à dança, é repetido várias vezes; depois, um segundo gesto é adicionado à "coreografia” e os dois são repetidos, e por aí adiante. Não especialmente complicados, do ponto de vista exclusivamente técnico, os movimentos empregues nas suas obras são eminentemente transmissíveis - motivo pelo qual o trabalho de Trisha Brown tem sido perpetuado através do ensino, primeiro pela própria e actualmente por membros da sua Companhia, das suas performances a novos bailarinos. Brown também foi uma pioneira na incorporação do filme na dança, e esteve desde sempre rodeada de artistas visuais, realizadores de cinema e fotógrafos, nomeadamente a franco-americana Babette Mangolt e a americana Elaine Summers, que partiram do seu trabalho para explorar as potencialidades e os limites da documentação e da tradução para outros suportes da dança e da performance. Logo em 1966, Brown utilizou numa sua coreografia um filme do artista Robert Whitman (Homemade, apresentada agora sob a forma de documentação vídeo), como são famosos, por exemplo, os filmes Roof and Fire Piece (1973) e Watermotor (1978), de Mangolte e também apresentados na exposição. O primeiro filme é paradigmático da forma como, nos anos de 1970, os artistas se apropriaram de forma inédita do espaço público urbano - nomeadamente do SoHo, em Nova Iorque, e de como, vistas por muito poucos, estas performances tiveram na documentação uma forma privilegiada de comunicação com os contemporâneos de Trisha Brown, mas também de transmissão às novas gerações do importante legado para as actuais performance e artes visuais desta incontornável reinventora daquilo que entendemos hoje como dança.
Comissariado: João Fernandes
Produção: Fundação de Serralves