Sexta sessão do ciclo dedicado à experiência de Manoel de Oliveira enquanto espectador, com filmes e cineastas importantes no seu percurso enquanto cinéfilo.

LE NOTTE DI CABIRIA | AS NOITES DE CABÍRIA

Federico Fellini | ITA | 1957 | 118’

As Noites de Cabíria é o último filme da década de 50 realizado por Federico Fellini, que resume as suas propostas narrativas e dramáticas até então e abre caminho à sua fase mais célebre, iniciada com o filme seguinte A Doce Vida (1960). O título refere-se à protagonista Cabíria, uma prostituta mergulhada no submundo de Roma, que almeja encontrar o verdadeiro amor, embora o destino lhe traga apenas desgostos e desilusões amorosas. Interpretada por Giulietta Masina, esposa de Fellini e presença assídua nos seus filmes desta década, o seu trabalho de entrega e resistência ou, como escreveu Manoel de Oliveira, “expressão inexcedível dum sentimento de ternura humana cativo e permanente” é de uma grande intensidade afetiva. Este poder positivo da personagem contrasta com o ambiente sórdido e hostil (Pier Paolo Pasolini acabou por também colaborar no argumento, dada a sua familiaridade com o submundo romano), e é este contraste que permite que As Noites de Cabíria se apresente como uma poderosa exploração da condição humana. Para além de particularmente sensível a Giulietta Masina, Manoel de Oliveira elogiou o filme como “talvez o mais belo de todos os filmes de Fellini, cujo percurso dramático transforma o trágico num hino à vida” (Manoel de Oliveira, Ditos e Escritos, Fundação de Serralves, p. 256).