Terceira sessão do ciclo dedicado à experiência de Manoel de Oliveira enquanto espectador, com filmes e cineastas importantes no seu percurso cinéfilo.

La Passion de Jeanne d'Arc | A Paixão de Joana d'Arc

Carl Theodor Dreyer | FRA | 1928 | 82'

Adaptação cinematográfica das transcrições do julgamento e condenação de Joana d’Arc pela Inquisição durante a Guerra dos Cem Anos, o último filme mudo de Carl Theodor Dreyer é um dos marcos fundamentais da história do cinema. Neste filme, o cineasta dinamarquês questiona e reinventa todo um conjunto de parâmetros estabelecidos: da estrutura narrativa aos esquemas de iluminação, dos enquadramentos pouco convencionais à intensidade da interpretação dos atores, sublinhada pelo recurso sistemático ao grande plano. Contando com Renée Jeanne Falconetti, numa das suas raríssimas aparições no cinema, no papel da icónica Joana d’Arc (contracenando aqui, brevemente, com Antonin Artaud), Dreyer leva a representação do martírio da heroína ao limite do potencial expressivo da imagem. Não é, pois, por acaso que Manoel de Oliveira refere que aquilo que mais o tocou nesta versão da paixão de Joana d’Arc foi “a sinceridade autêntica da sua expressão angustiada na procura de um amor sempre furtivo cuja verdadeira luz nos ultrapassa e não se define”.