ACTO DA PRIMAVERA

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Cinema

Auditório do Museu
25 OUT 2020

Horário: 17:00


ACTO DA PRIMAVERA

PT |1963 | 94 min.

Manoel de Oliveira


2010 Acto da Primavera

Sessão organizada em colaboração com o Cineclube do Porto e em diálogo com a apresentação da versão restaurada de O Auto da Floripes (1959-1963).


ACTO DA PRIMAVERA, de Manoel de Oliveira, regista de uma representação popular do Auto da Paixão de Cristo pelos habitantes da Curalha, aldeia do concelho de Chaves. O projeto surgiu durante a preparação de O PÃO (em 1957-58), quando o realizador percorria a paisagem transmontana em busca de moinhos de vento que servissem de cenário para esse documentário. Deparando-se com três cruzes de madeira erguidas junto à estrada, o realizador inquiriu sobre o seu propósito, tomando então conhecimento da festa popular que lhes estava associada. Em 1959 pede apoio ao Fundo Nacional do Cinema para a rodagem do filme REPRESENTAÇÃO POPULAR DO AUTO DA PAIXÃO DE CRISTO, conseguindo o financiamento do dito instituto (depois de mais de uma década de sucessivas recusas). Filmado entre 1960 e 1961 (numa rodagem particularmente difícil, uma vez que os atores, além de não serem profissionais, não podiam descurar as suas tarefas agrícolas), o filme passa por um longo processo de pós-produção, acabando por só estrear em outubro de 1963.

 

É também em 1959 que a secção de Cinema Experimental do Clube Português de Cinematografia – Cineclube do Porto inicia a rodagem de O AUTO DA FLORIPES, realização coletiva de António Lopes Fernandes (um dos elementos da comissão fundadora da dita secção), Adelino Felgueiras, Alcino Soutinho, António Reis e Arnaldo Araújo, a partir de uma ideia de Henrique Alves Costa. À semelhança de ACTO DA PRIMAVERA, o filme regista uma representação popular cuja origem remonta ao século XVI-XVII, integrada na romaria da Senhora das Neves, aldeia do distrito de Viana do Castelo. Enfrentando dificuldades técnicas semelhantes às experienciadas por Oliveira, nomeadamente ao nível do som, O AUTO DA FLORIPEDES apenas teria a sua primeira apresentação pública em janeiro de 1963.

 

Se as afinidades entre os dois filmes são evidentes, tanto no que respeita à coincidência temporal como à abordagem etnográfica, elas participam também de um movimento que, em finais dos anos 1950 e a partir de diferentes enquadramentos disciplinares, se empenha na redescoberta da cultura popular em moldes muito diferentes do folclorismo populista promovido pelo Estado Novo. Basta, por exemplo, pensar no “Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal”, em que participaram José Huertas Lobo, Francisco Keil do Amaral e Fernando Távora, entre outros, na “Antologia da Música Regional Portuguesa”, produzida a partir das recolhas de Michel Giacometti e Fernando Lopes-Graça, ou no modo como Ernesto de Sousa traz o trabalho de alguns barristas de Barcelos para o domínio da arte contemporânea. Note-se, a este propósito, que ACTO DA PRIMAVERA era parte de um projeto mais ambicioso a que Manoel de Oliveira chamou “O Palco dum Povo” e com o qual pretendia fazer um retrato cinematográfico de diversas atividades culturais por todo o território nacional. Dois dos filmes que deveriam integrar este projeto partiam, aliás, também eles, de atos populares – o “Auto da Criação do Mundo” e o “Auto do Nascimento do Menino” (ambos de 1968) –, neste caso, o registo de espetáculos de marionetas, mais concretamente, dos Bonecos de Santo Aleixo.

 

Quando se celebram os 75 anos do Cineclube do Porto e se apresenta, pela primeira vez na cidade, o novo restauro digital de O AUTO DA FLORIPES (a exibir na Casa das Artes, dia 24 de outubro, às 18h00), a Casa do Cinema Manoel de Oliveira organiza uma sessão de ACTO DA PRIMAVERA (no âmbito do seu programa Domingos na Casa da Cinema, no dia 25 de outubro, às 17h00) propondo, assim, um diálogo entre os dois filmes.

 


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