Nesta quarte parte do programa interroga-se o modo como a cultura e o cinema afro-americanos são, ao mesmo tempo, uma emanação direta da vivência dos negros em território americano (da segregação racial às lutas sociais e políticas em que se implicaram) e uma peça-chave fundamental (parte integrante, definidora e constitutiva) para pensar a identidade cultural dos Estados Unidos da América.Dito de outro modo, a matéria de que é feita a história da segregação social, da perda e reinvenção de referentes culturais num contexto de diáspora, é também a matéria de que são feitos os Estados Unidos da América.

Os filmes que compõe quarto capítulo do ciclo The Dark Matter of Black Cinema são filmes que inauguram soluções formais e modelos de produção alternativos à estética dominante (branca), pondo em causa as representações estereotipadas do negro. Cada uma destas duas sessões foca-se em títulos de realizadores que, além de serem pioneiros, marcaram profundamente a prática artística de Arthur Jafa: Julie Dash, primeira mulher a realizar uma longa-metragem com distribuição comercial alargada nos EUA; Haile Gerima e Charles Burnett, nomes fundamentais do L.A. Rebellion, movimento de jovens cineastas negros, estudantes da Universidade de Los Angeles, que a partir do final dos anos 1960e em oposição aos códigos da indústria, procuraram afirmar um olhar próprio e emancipado, sem estigmas nem exotismo; ou ainda Kevin Jerome Everson, contemporâneo de Jafa. Estes filmes partilham um mesmo interesse rítmico pela narrativa visual, constituindo, nas palavras de Jafa, importantes precedentes ou contrapontos formais para o trabalho que tem vindo a realizar.