DEMOCRACIA DIGITAL”: UM REGRESSO À DEMOCRACIA DIRECTA DE ATENAS?
Conversas Com Serralves
#ConversasComSerralves
Horário: 18:00
Evento online, de acesso gratuito, com inscrição obrigatória através deste link
O link de acesso será enviado após conclusão do período de inscrições
DEBATE: Miguel Monjardino e Paulo Rangel
MIGUEL MONJARDINO, Professor do Instituto de Estudos
Políticos da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa)
PAULO RANGEL, Deputado Europeu e docente convidado
da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (Porto)
MODERAÇÃO: Catarina Botelho
CATARINA BOTELHO, Professora de Direito
Constitucional da Universidade Católica Portuguesa (Porto)
LEIT-MOTIV
1. Todos aprendemos, nos bancos da escola, que a
democracia nasceu na Grécia Antiga, mais exactamente. E temos uma ideia, as
mais das vezes vaga, de que a democracia ateniense era uma democracia directa,
em que todos os cidadãos eram legisladores e participavam em rigorosa igualdade
de condições. Essa “idade do ouro”, em que cada cidadão tinha a dupla condição
de governante e governado, só teria sido viável, porém, numa Cidade-Estado com
uma população diminuta.
2. Num ápice, a revolução digital parece ter criado as
condições tecnológicas para ressuscitar o paradigma da democracia directa,
mesmo em comunidades altamente populosas, na escala de dezenas ou centenas de
milhões de pessoas. Seja ao nível da participação, designadamente através das
redes sociais e de plataformas institucionais; seja ao nível da decisão, pois
nada impede uma espécie de plebiscito digital periódico em que todos os
cidadãos são chamados a votar as decisões mais relevantes. O contexto da
pandemia, ao exponenciar as virtualidades da intervenção digital e ao
possibilitar os parlamentos remotos, só veio acelerar e catalisar este processo.
A digitalização pode ter tornado os parlamentos, política e tecnologicamente,
obsoletos.
3. Vale,
pois, a pena revisitar os clássicos, de Tucídides a Aristóteles ou de Heródoto
a Políbio. E ver aí o que pensavam da democracia ateniense – da democracia
directa. Que virtudes e que defeitos lhe apontavam? Ver como falavam dos riscos
de derrapagem para a demagogia, como preveniam para o advento dos populismos,
como advertiam contra os perigos do “despotismo de todos” ou da instauração do
“reino das paixões”. Vamos decerto surpreender-nos com a actualidade e o
proveito óbvio das suas descrições, classificações e apreciações. O animal
político de Aristóteles, depois animal social de Tomás de Aquino, não mudou
assim tanto. Como escreveu Homero antes de todos eles: “Os moinhos dos deuses
moem muito devagar”.
Relacionado
Paulo Rangel, 1968. Deputado ao Parlamento Europeu, chefe da
Delegação Portuguesa do PSD e Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PPE de
2009 até hoje. Presentemente é o responsável do PPE pela Conferência sobre o
futuro da Europa. Em 2014, foi o promotor e primeiro Presidente da delegação
UE- Brasil. Foi líder parlamentar do PSD em 2008-2009, Deputado à Assembleia da
República de 2005 a 2009 e Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Justiça
do XVI Governo Constitucional. É docente convidado da Faculdade de Direito da
Universidade Católica (Porto) e do MBA executivo da Porto Business School. Nas
áreas de Direito Público e de Ciência Política. Das suas obras académicas
destacam-se Repensar o Poder Judicial, 2001; O Estado do Estado,
2009; As Raízes do Parlamentarismo e a Revolução Conservadora, 2021.
Autor de muitos outros artigos científicos e de ensaios como Uma Democracia
Sustentável, 2010, ou Jesus e a Política – reflexões de um mau
samaritano, 2015.