DEMOCRACIA DIGITAL”: UM REGRESSO À DEMOCRACIA DIRECTA DE ATENAS?

Conversas Com Serralves

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16 MAR 2021

Horário: 18:00

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2103 DEMOCRACIA DIGITAL: UM REGRESSO À DEMOCRACIA DIRECTA DE ATENAS?

DEBATE: Miguel Monjardino e Paulo Rangel


MIGUEL MONJARDINO, Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa (Lisboa)


PAULO RANGEL, Deputado Europeu e docente convidado da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (Porto)


MODERAÇÃO: Catarina Botelho

CATARINA BOTELHO, Professora de Direito Constitucional da Universidade Católica Portuguesa (Porto)


 

            LEIT-MOTIV

 

1. Todos aprendemos, nos bancos da escola, que a democracia nasceu na Grécia Antiga, mais exactamente. E temos uma ideia, as mais das vezes vaga, de que a democracia ateniense era uma democracia directa, em que todos os cidadãos eram legisladores e participavam em rigorosa igualdade de condições. Essa “idade do ouro”, em que cada cidadão tinha a dupla condição de governante e governado, só teria sido viável, porém, numa Cidade-Estado com uma população diminuta.


2. Num ápice, a revolução digital parece ter criado as condições tecnológicas para ressuscitar o paradigma da democracia directa, mesmo em comunidades altamente populosas, na escala de dezenas ou centenas de milhões de pessoas. Seja ao nível da participação, designadamente através das redes sociais e de plataformas institucionais; seja ao nível da decisão, pois nada impede uma espécie de plebiscito digital periódico em que todos os cidadãos são chamados a votar as decisões mais relevantes. O contexto da pandemia, ao exponenciar as virtualidades da intervenção digital e ao possibilitar os parlamentos remotos, só veio acelerar e catalisar este processo. A digitalização pode ter tornado os parlamentos, política e tecnologicamente, obsoletos.


3. Vale, pois, a pena revisitar os clássicos, de Tucídides a Aristóteles ou de Heródoto a Políbio. E ver aí o que pensavam da democracia ateniense – da democracia directa. Que virtudes e que defeitos lhe apontavam? Ver como falavam dos riscos de derrapagem para a demagogia, como preveniam para o advento dos populismos, como advertiam contra os perigos do “despotismo de todos” ou da instauração do “reino das paixões”. Vamos decerto surpreender-nos com a actualidade e o proveito óbvio das suas descrições, classificações e apreciações. O animal político de Aristóteles, depois animal social de Tomás de Aquino, não mudou assim tanto. Como escreveu Homero antes de todos eles: “Os moinhos dos deuses moem muito devagar”.

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Paulo Rangel, 1968. Deputado ao Parlamento Europeu, chefe da Delegação Portuguesa do PSD e Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PPE de 2009 até hoje. Presentemente é o responsável do PPE pela Conferência sobre o futuro da Europa. Em 2014, foi o promotor e primeiro Presidente da delegação UE- Brasil. Foi líder parlamentar do PSD em 2008-2009, Deputado à Assembleia da República de 2005 a 2009 e Secretário de Estado Adjunto do Ministro da Justiça do XVI Governo Constitucional. É docente convidado da Faculdade de Direito da Universidade Católica (Porto) e do MBA executivo da Porto Business School. Nas áreas de Direito Público e de Ciência Política. Das suas obras académicas destacam-se Repensar o Poder Judicial, 2001; O Estado do Estado, 2009; As Raízes do Parlamentarismo e a Revolução Conservadora, 2021. Autor de muitos outros artigos científicos e de ensaios como Uma Democracia Sustentável, 2010, ou Jesus e a Política – reflexões de um mau samaritano, 2015.

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