Margherita Morgantin, COSMIC SILENCE (Fluorescence)
O MUSEU COMO PERFORMANCE
O MUSEU COMO PERFORMANCE
Horário: 10:00 - 20:00
Imagem: Margherita Morgantin
O
projeto da artista italiana Margherita Morgantin para o Museu de Serralves no
Porto, por ocasião de O Museu como Performance, intitula-se COSMIC SILENCE (Fluorescence) [SILÊNCIO
CÓSMICO (fluorescência)] e faz parte do projeto VIP = Violation of the Pauli exclusion principle SOPRA
LA MONTAGNA SOTTO LA MONTAGNA [Violação
do princípio de exclusão de Pauli, SOBRE A MONTANHA, SOB A MONTANHA]. Trata-se
de uma instalação de um vídeo ambiental filmado em planaltos de montanha,
apresentando mangas de vento que indicam os movimentos invisíveis do ar,
criando um novo ponto de referência visual para os observadores sensíveis às
mudanças atmosféricas. O restolhar das mangas de vento é acompanhado pela
difusão das traduções acústicas dos espectros de onda sub-nucleares (em
colaboração com a música eletrónica Ilaria Lemmo) e por um diário de viagem
sonoro criado para esta ocasião.
As experiências que fizeram parte de COSMIC SILENCE, e que ainda decorrem, pretendem aprofundar o
estudo dos mecanismos moleculares envolvidos na resposta biológica à radiação
ambiental em sistemas modelo, quer in vitro quer in vivo, a diferentes níveis
da escala filogenética.
A manga de vento, um elemento simbólico ligado à
meteorologia, tem acompanhado a investigação da artista desde há anos, e é
também um sinal literal nas zonas de autoestrada expostas a ventos fortes ao
longo da rota terrestre que a artista percorreu de Itália ao Porto e
vice-versa. As mangas de vento instaladas em Serralves são cosidas com
fragmentos de roupa fluorescente usada pelos trabalhadores das autoestradas. O
comentário áudio que se pode ouvir, mistura a tradução acústica do espectro
radioativo das experiências de física nuclear nos laboratórios de Gran Sasso
(mais precisamente no túnel de neutrinos) com os sons gravados ao longo da
viagem por terra que seguiu a necessidade de verificação geográfica do mundo
após os meses de confinamento: a necessidade física de apontar no sentido de um
horizonte oceânico, chegando à costa atlântica portuguesa sem recorrer a
qualquer voo.
"Se os elementos invisíveis e microscópicos
redefinem as leis do movimento e os destinos dos corpos no planeta, um novo
sistema audiovisual de sinais rodoviários acompanha a experiência
de um espaço que foi redescoberto ou que talvez tenha estado disponível pela
última vez". (M.M.)
Os quatro trabalhos que formam a intervenção para O
Museu como Performance são ao mesmo tempo vestígios da passagem da
artista e sinais de movimentos de partículas. Estes incluem a instalação vídeo Campo base.
Una specie del vento [Campo Base. Uma espécie de vento] (som, cor, 2h 15 '): o início
da monitorização climática e performativa do projeto VIP = Violation of the Pauli exclusion principle SOPRA
LA MONTAGNA SOTTO LA MONTAGNA; Cosmic Silence 1, MIRA (manga de vento instalada na
torre da capela da Casa de Serralves); Cosmic
Silence 2, fluorescence 1 (manga
de vento instalada no vão das escadas da torre e faixa áudio ambiente –
tradução de espectros VIP); Cosmic
Silence 3, fluorescence 2 (manga
de vento instalada no exterior da “casa do fresco” dos jardins de Serralves e
áudio-difusão ao longo do interior desse espaço de uma faixa áudio sobre texto
com base de sons extraídos da gravação integral da viagem de carro da artista
de Serralves até Milão).
A cordilheira Gran Sasso, no centro de Itália, é o
centro físico e simbólico da investigação de Margherita Morgantin graças à sua
excecional dupla perspetiva.
VIP é uma via de investigação que parte da observação de algumas
imagens da física sub-nuclear e da astrofísica numa relação com a imaginação
artística praticada através de um método de sensibilidade pessoal como forma de
dado científico. O título toma de empréstimo o nome de uma experiência em
física de partículas que tem vindo a ser realizada ao longo de anos nos
laboratórios subterrâneos de Gran Sasso do Instituto Nacional de Física Nuclear
sob o maciço de Gran Sasso. VIP é a abreviatura que designa a
pesquisa experimental em busca de “átomos impossíveis”, cujo surgimento
violaria o princípio de exclusão de Pauli, ainda considerado uma das pedras de
toque do nosso entendimento do universo e da matéria. Em VIP, o
corpo e experiência da artista tornam-se parte dos instrumentos científicos usados
na investigação de campo. VIP tem-se desenrolado entre 2020 e 2021
com vários graus de envolvimento de vários interlocutores e públicos no
processamento e apresentação dos seus resultados.
Produção: Xing, 2021
VIP = Violation of the Pauli exclusion principle, SOTTO LA
MONTAGNA, SOPRA LA MONTAGNA é realizado graças ao apoio do Italian Council
(VIII edizione 2020).
Relacionado
Margherita
Morgantin é
uma artista visual italiana nascida em Veneza que vive e trabalha em Milão.
Formou-se em Arquitetura no Departamento de Física Técnica do IUAV pesquisando
sistemas de previsão de luz natural. O seu trabalho articula-se por meio de
diferentes linguagens, que vão do desenho e instalação à performance,
movendo-se por uma linha que liga linguagem, filosofia, matemática e cultura
visual. Contato e convivência, observação e imaginação, são os intervalos
abertos que caracterizam a obra de Morgantin. Tem participado em exposições
coletivas shows e festivais em Itália e noutros países. Projetos recentes dela
incluem: “VIP = Violação do princípio de exclusão de Pauli, SOTTO LA MONTAGNA,
SOPRA LA MONTAGNA” (2020-21), “Doing Desculturalization” (Museion, Bolzano
2019); “Mi-abito” (Farmacia Wurmkos e Museo del 900, Milão 2019), “BienNolo”
(Spazio ex Cova, Milano 2019); “Vetrine di Libertà, La Libreria delle donne di
Milano, ieri, oggi” (Fabbrica del Vapore, Milão 2019); “Artworks that ideas can
buy” (Arte Fiera/Oplà.Performing Activities, Bologna 2019), “Artworks that
ideas can buy” (Arte Fiera/Oplà.Performing activities, Bolonha 2019); “Hospitality”
(Non-objective Sud, Toulette, France 2018); “Embracing the moment” (Beatrice
Burati Anderson Art Space and Gallery, Veneza 2018); “AndarXporte” (Palazzo
Archinto, Milão 2017); Et in terra (Beatrice Burati Anderson Art Space and
Gallery, Veneza 2017); “Drawings” (Auditorium del Parco di Renzo Piano,
L’Aquila 2017); “Flow” (Basilica Palladiana, Vicenza 2017). Publicou os livros
de textos curtos e desenhos “Titolo variabile” (Quodlibet 2009), “Agenti
autonomi e sistemi multiagente” (com Michele Di Stefano) (Quodibet 2012), “Wittgenstein”
(nottetempo 2016), “Lo spazio dentro” (com Maddalena Buri) (nottetempo e-pub
2020), “Sotto la montagna Sopra la montagna” (nottetempo 2021). Desde 2013,
trabalha como Pawel und Pavel, um projeto colaborativo de escrita e performance
com Italo Zuffi. Colaborou com artistas sonoros/visuais e coreógrafos como
Michele Di Stefano/mk, Roberta Mosca, Richard Crow, Mattin, Alice Guareschi e
com o coletivo filosófico de mulheres Diotima. Ensina anatomia artística,
ilustração científica e técnicas de performance na Accademy of Fine Arts em
L'Aquila.