CONVERSAS ENTRELAÇAR
CICLO DE CONVERSAS ENTRELAÇAR
Dia Mundial da Terra
19h00-20h30
Sessão em inglês
Acesso: 3€ (Amigos de Serralves, estudantes e maiores 65 anos: 50% desconto)
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Com Bob Bloomfield, autor e escritor, Gonçalo D. Santos, antropólogo e investigador internacional no domínio dos estudos chineses, Paulo Magalhães, jurista e investigador do Centro de Investigação Jurídico-Económica da Universidade do Porto e moderação de Philippe Vergne, Diretor do Museu de Arte Contemporânea de Serralves.
Numa perspetiva de reflexão conjunta da Exposição “Ai Weiwei: Entrelaçar”, a Ciência e a Arte unem-se para o diálogo no Museu e no Parque.
Bob Bloomfield, autor e escritor, abordará algumas questões numa perspetiva da história natural e das alterações e impactes ambientais. A sua intervenção parte de um capítulo do seu livro “Wake of the Endeavour”, quando em 2002 realizou uma curta visita à Mata Atlântica, no Brasil, recriando a primeira viagem do explorador britânico James Cook em 1770. Bob explorará as mudanças testemunhadas pelos primeiros viajantes europeus, contrastando os lugares com as atuais realidades ambientais e as implicações futuras para a natureza e para as pessoas.
Gonçalo D. Santos, antropólogo e investigador, partilhará a sua perceção de Ai Weiwei no Antropoceno. Nas últimas duas décadas, Ai Weiwei tornou-se um ícone cultural global e um dos artistas mais famosos em todo o mundo. Este foi um caminho muito improvável para um menino que nasceu em Pequim em 1957 e que passou grande parte da sua infância a viver em condições adversas em áreas remotas no nordeste e noroeste da China devido ao exílio político do seu pai. Ai aprendeu muito sobre as intrincadas conexões entre arte e a política durante este período de formação, e o seu grande sucesso como artista global itinerante, muitas décadas mais tarde, deveu muito a estas experiências maoístas anteriores, que o inspiraram a desenvolver estreitas ligações entre a sua prática artística e as suas atividades enquanto ativista e defensor entusiasta dos valores da democracia, direitos humanos e liberdade de expressão. É esta ligação entre prática artística e intervenção política que torna bastante difícil permanecermos indiferentes ao trabalho de Ai, seja quando ele está a lidar com questões relativas ao seu país de origem, a China, seja quando ele está a debruçar-se sobre questões de âmbito mais global. Ai fez uso da sua prática artística para investigar a corrupção e os encobrimentos do governo na China após o Grande Terramoto de Sichuan, em 2008, da mesma forma que fez uso da sua prática artística para documentar o sufoco e o sofrimento de refugiados e emigrantes um pouco por todo o mundo. Estes são apenas dois exemplos, mas ajudam a capturar a vasta amplitude do trabalho de Ai.
Com a exposição Entrelaçar, Ai está a abandonar a esfera nacional e global e a caminhar na direção de uma nova fronteira de intervenção artística-política: a do Antropoceno, a presente era de incertezas ambientais antropogénicas. As duas peças incluídas nesta exposição são modelos de ferro feitos à escala real de formas de vida que foram sujeitas a processos de destruição ecológica resultantes do comportamento bárbaro e predatório da civilização moderna. Ai está a sugerir que a atual crise ambiental está enraizada numa conceção modernista de humanidade enganadora que assume—erradamente—que os seres humanos são superiores a todas as outras formas da Natureza e por isso, têm o direito de explorar a Natureza como bem entendem. Para parar o desastre ambiental, Ai defende que devemos rejeitar esta perspetiva antropocêntrica arrogante e abraçar uma nova forma de “sonhar” que requer que se preste um pouco de mais atenção às histórias de vida e às perspetivas de outras formas de vida em nosso redor, incluindo o monumental pequi-vinagreiro da exposição. A atual crise ambiental obriga a reinventar o lugar da humanidade no mundo e a repensar as forças dominantes que ameaçam o equilíbrio ecológico do planeta. O trabalho de artistas como Ai Weiwei está na vanguarda desse esforço para criar novas visões de esperança e justiça em tempos de arrogância modernista e destruição ambiental.
Paulo Magalhães, jurista e investigador, refletirá sobre um destino comum entrelaçado - A forma como percecionamos o percurso humano neste planeta, é a história de uma relação entre duas entidades separadas, em que a afirmação humana passou pela crença no domínio, controlo e entendimento da natureza que nos rodeia. Através dos princípios de disjunção, da redução e da abstração, mutilamos mais do que explicamos, produzimos mais confusão que esclarecimento. Para todos os efeitos, tentamos dividir o que é uno, profundamente interconectado, interdependente e entrelaçado... Nós somos parte do Sistema Terrestre, pertencemos ao sistema e só numa profunda sintonia com o seu modo de funcionamento, poderemos ser uma espécie bem sucedida no tempo.
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Bob Bloomfield estudou na Universidade de Birmingham. A sua carreira abraçou as ciências naturais e ambientais, a curadoria e a inovação no envolvimento do público. Durante muitos anos, liderou os programas de exposição do Museu de História Natural de Londres (1985-2012). Foi lá que defendeu pela primeira vez intervenções interdisciplinares de "ciência e arte", o que o levou a receber uma Dotação Nacional para a Tecnologia da Ciência e a Bolsa de Artes. Durante três anos, retratou a 1ª Viagem do Pacífico do Tenente James Cook. O seu jornal Wake of the Endeavour, comunica a história da exploração europeia e as respetivas consequências ambientais, o aparecimento das ciências naturais, a importância da etnobotânica e o imperativo atual de encontrar soluções mais sustentáveis para as pessoas e natureza.
Bob participou em programas de envolvimento público, incluindo Darwin200, a celebração internacional do bicentenário de Charles Darwin em 2009 e o 150º aniversário de "Sobre a Origem das Espécies"; e em 2010 no programa do Ano Internacional da Biodiversidade da ONU do Governo britânico. O trabalho realizado por Bob, desde então, foca-se na natureza, no ambiente e na procura de soluções sustentáveis.
Os seus mais recentes projetos incluem contribuições para o ambicioso Museu de Ciencias Ambientales Guadalajara, México; a 'Sexta Extinção' – uma galeria na cúpula da Cloud Forest, Gardens by the Bay, em Singapura; e as galerias do Museu Etnobotânica nos Jardins Botânicos de Singapura. Em 2012, Bob foi distinguido como Oficial da Ordem do Império Britânico (OBE), aquando do Aniversário da Rainha pelas suas contribuições para a Ciência na Sociedade.