CICLOO que a minha dança dizVERA MANTERO

CICLO O QUE A MINHA DANÇA DIZ VERA MANTERO

Auditório de Serralves
5 de Junho | 18H30

Bilhete de acesso: 7,5 euros









2206 CICLO O QUE A MINHA DANÇA DIZ Vera Mantero
@Agnieszka-Wojtun

Coreógrafa, performer, investigadora e pensadora, Vera Mantero é uma artista notável e referência incontornável da dança contemporânea.

O seu percurso está intimamente ligado a Serralves e à programação do Museu desde a sua abertura ao público – refira-se a sua proposta de improvisação na programação performativa, realizada no âmbito da exposição inaugural do Museu, Circa 1968,  em 1999. O corpo de trabalho de Mantero, amplamente reconhecido e englobando mais de 30 anos de criação, espelha influências filosóficas, científicas, políticas, literárias e das artes visuais que perpassam as suas performances, filmes, conferências dançadas e ensaios críticos.

O Museu de Serralves dedica-lhe entre junho de 2022 e maio de 2023 um Ciclo desenhado como uma publicação imaterial, organizado em capítulos e estruturado sobre os conceitos, as qualidades e as possibilidades de expressão que singularizam a dança de Mantero: improvisação, voz, movimento, escrita, pensamento e prática colaborativa.

O programa inaugura com a apresentação de três solos, criados entre 1991 e 1996, aqui reunidos num único programa porque representativo do pioneirismo da sua dança e comprometimento com a arte (universal), a criação (a sua, na relação com os outros) e a política (a nossa e a global).

O ciclo inaugura com a apresentação de três solos, dançados entre 1991 e 1996, e aqui reunidos num único programa porque representativo do pioneirismo da sua dança e comprometimento com a arte (universal), a criação (a sua, na relação com os outros) e a política (a nossa e a global).

 

SOLOS

Vera Mantero 

5 de Junho, às 18h30, Auditório de Serralves, 85 ‘ com intervalos


Capítulo 1. Matérias usadas: improvisação; pensamento; texto; transfiguração; movimento; gesto; rosto; voz


uma misteriosa Coisa, disse o e.e.cummings*, (1996)

“Duas cores num só corpo. Recebo o teu corpo em mim.” (VM)



Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois, (1991)

"O que é que eu estou a dizer quando estou a dançar?”(VM).



Olympia (1993)

“Dubuffet, Asfixiante Cultura, leitura, nudez, Manet, uma cama pela trela“ (VM)

uma misteriosa Coisa, disse o e.e.cummings*, (1996)


concepção e interpretação

Vera Mantero

caracterização

Alda Salaviza (desenho original de Carlota Lagido)

adereços

Teresa Montalvão

desenho
original de luz

João Paulo Xavier

adaptação e operação de luz

Hugo Coelho



O solo "uma misteriosa Coisa, disse o e.e. cummings*" foi estreado em janeiro 1996, para a "Homenagem a Josephine Baker", uma iniciativa da Culturgest em Lisboa. Na sua visão da vida e da obra da bailarina e cantora negra da primeira metade do século XX, Vera Mantero optou por uma abordagem que vai para além da figura de Josephine Baker. Para o programa ela escreveu: "É uma coisa que eu gostava de encontrar ou de criar, um amplo território em que a riqueza de espírito reinasse. (...) Este espírito de que falo não tem vontade nenhuma de anular o corpo, nem vergonha nenhuma do seu desejo e do seu sexo, o que este espírito de que falo tem vontade de anular é a boçalidade, a assustadora burrice, a profunda ignorância, a pobreza de horizontes, o materialismo, etc. etc. (infelizmente a lista tem ar de ser longa...).


"Uma impossibilidade, uma má-vivência, uma tristeza, uma ausência, um desgosto, uma incapacidade, atrozes", são algumas das palavras que se repetem, com uma insistência crescente, ao longo de todo o espectáculo, "em que Vera Mantero se equilibra precariamente sobre uns pés de cabra movimentando-se ao ritmo da dificuldade que as palavras enunciam sem conseguir arredar os pés da condenação a que permanecem pregados.

Exasperante corporização de um mal-estar que, como se sabe, começa sempre por ser um não saber o que se há-de fazer com o corpo», descreve Alexandre Melo no

Expresso. E conclui: «Duas hipóteses para descrever esta situação genérica, geral, civilizacional: há qualquer coisa que falta. Ou, então, talvez melhor: falta qualquer coisa que não há».


(Texto integrado no dossier de imprensa do Festival Danças na Cidade 1996)


* o que ele disse de facto sobre a Josephine:

"uma misteriosa Coisa, nem primitiva nem civilizada, ou para além do tempo, no sentido em que a emoção está para além da aritmética”.




Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois



concepção e interpretação

Vera Mantero

cenografia

André Lepecki

música

Thelonius Monk

"RUBY, MY DEAR"

figurino

Vera Mantero

desenho original de luz

João Paulo Xavier

adaptação e operação de luz

Hugo Coelho / Aldeia da Luz



"Talvez ela pudesse dançar primeiro e pensar depois” é um solo estreado em 1991, criado para o Festival Europália na Bélgica (dedicado nesse ano a Portugal e que incluiu uma larga representação

coreográfica portuguesa).


Este solo tem um lugar cimeiro no percurso coreográfico de Vera Mantero. É um trabalho que já percorreu praticamente duas décadas e que, singularmente, continua vivo e a ser apresentado. Porquê?


Foi com este solo que a autora encontrou parte da sua identidade em termos de movimento, em termos de forma de estar em cena, em termos de instrumentos e elementos que utiliza para criar e actuar: um corpo que não descura os gestos, as mãos, o rosto, as expressões, que as inclui porque sabe que estes elementos fazem absolutamente parte do corpo-gente; que tenta constantemente agarrar aquilo que o atravessa, que tenta expor isso mesmo através das respostas de um corpo vibrátil; um corpo que embate contra o tempo-cadência e brinca com ele(s) como uma criança brinca com berlindes; um corpo que produz por vezes uma quase-fala, em sons que parecem querer ganhar

contornos de palavras, em lábios que articulam palavras inaudíveis.


Porque aconteceu isto a este corpo?


Escrevia Mantero na folha de sala nessa altura: “A minha relação com a dança gira à volta das seguintes questões: o que é que a dança diz? O que é que eu posso dizer com a dança? O que é que eu estou a dizer quando estou a dançar?”. A capacidade e a incapacidade de a dança DIZER estavam

no centro das preocupações criativas da autora à época (... não estarão ainda?). A estratégia de inclusão (nas acções, nos movimentos, nos impulsos) de outros materiais que não os habitualmente utilizados pela dança foi o recurso e a pesquisa que a autora empreendeu para forçar-empurrar-pressionar a dança a DIZER (…).




O l y m p i a



concepção e interpretação

Vera Mantero

desenho original de luz

João Paulo Xavier

adaptação e operação de luz

Hugo Coelho

texto

Jean Dubuffet

música

extractos de música dos Pigmeus Baka, Camarões



Única descrição desta peça no programa da sala original: Vera Mantero, improvisações, 5 minutos.


Acho que ninguém da organização fazia muito ideia do que eu ia fazer. E acho que não demorou só cinco minutos. O programa era o da Maratona para a Dança, uma iniciativa já histórica criada em 1993 por uma série de bailarinos e coreógrafos que tinham decidido fazer o País acordar. Para a

dança que nele se fazia. Quando me contactaram para participar eu respondi entusiasticamente que sim e pus-me a pensar o que poderia fazer para “acordar” as pessoas. Andava por essa altura a ler a “Asfixiante Cultura” do Jean Dubuffet e pareceu-me absolutamente indicado ler passagens do livro naquela ocasião a quem quer que fosse que estivesse presente no Teatro Maria Matos. “Mas ler como? E não será um pouco pretensioso, ir práli dizer que eu é que sei o que é a verdadeira cultura, a melhor cultura? Se calhar devia estar nua...Tenho que ler o Dubuffet nua. Especada de pé em frente a um microfone? Não, isso não pode ser...Então a fazer o quê? Nua...?”. Esta nudez fez-me então pensar na Olímpia, do Manet, que tinha visto recentemente no Musée d’Orsay, em Paris, onde ainda estava a viver na altura. “E se fosse a Olímpia a ler o Dubuffet? Ai!, não!, que horror, aí é que me caiem todos em cima, sacrilégio à pintura, etc. etc...”.


Contei ao André Lepecki que queria ler o Dubuffet nua mas que não sabia como o fazer sem ser só ler o Dubuffet nua, sem lhe falar sequer do quadro. Então não é que ele me diz: “Oh Vera, não te lembras da Olympia do Manet [que tínhamos visto juntos]? Acho que devias fazer qualquer coisa com ela”.[!!!].

E assim fiz.

Vera Mantero

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Vera Mantero

A coreógrafa, performer, investigadora e pensadora Vera Mantero (n. 1966) é uma referência crucial da dança contemporânea. O seu processo de trabalho é semelhante ao de um arqueólogo ou astrónomo, cujo olhar vai muito além da superfície do mundo em demanda de elos cintilantes, para os descodificar e tendo o corpo como instrumento de experimentação. Mantero usa a escrita como meio para refletir sobre o seu trabalho, para gerar novas ideias e para captar exaustivamente um presente que nos escapa. Os seus cadernos de artista, desde meados da década de 1980 até ao início dos anos 2000, revelam a rota que tomou para condensar a sua prática num esquema composicional que, ao mesmo tempo, tem dimensões concretas, poéticas e filosóficas. O trabalho de Vera Mantero era uma referência à emergente cena de dança na Roménia na década de 1990 e foi mais tarde mostrado em Bucareste em 2007 e em Timișoara em 2021. 

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