DAYANA LUCAS - ESPÍRITO MANUAL

PROJETOS CONTEMPORÂNEOS

Galeria Contemporânea
Galeria Contemporânea
22 MAR - 03 JUN 2018
1803 Dayana Lucas

A prática artística de Dayana Lucas (Caracas, Venezuela, 1987) assenta no exercício quotidiano do desenho. Entendido pela artista como algo vivido com o corpo, o seu trabalho destaca a importância do processo, do gesto, da ação. O resultado não são cenas, explicações, mas sugestões — com o espaço vazio a dominar composições que resultam, segundo as palavras da artista, de uma "conversa com o branco” do papel. Feitos de linhas ininterruptas, traçadas de um só fôlego, os seus desenhos exigem uma grande concentração, uma disciplina verdadeiramente física; também exploram a tensão entre urgência e suspensão, vigor e elegância, leveza. O diálogo com o branco da folha empresta às suas composições um dinamismo e uma energia particulares, fazendo de cada desenho um exercício austero, abstrato, mas visualmente muito rico em relações entre cheio e vazio, figura e fundo, peso e leveza, e impressões de movimento. 


Interessada em sublinhar a relação do desenho com o seu corpo e com os corpos dos espectadores, Dayana Lucas tem vindo a ensaiar uma passagem das linhas dos seus desenhos à tridimensionalidade. Na Galeria Contemporânea do Museu de Serralves, a artista decidiu trabalhar de facto com o espaço, ampliar e materializar algumas linhas dos seus desenhos e fazê-las conversar com o branco da sala. A composição deste desenho em que podemos entrar é dramaticamente alterada pela deslocação dos visitantes no espaço. Suspensas do teto, à medida que nos movimentamos as linhas parecem, numa autêntica coreografia, ganhar vida, encontrar-se, divergir.


Esta premeditada relação entre os corpos dos espectadores e o "desenho no espaço” é sublinhada pelo convite a que as peças sejam experienciadas enquanto se ouve uma música em que uma parte substancial do som é obtida através do movimento (circular, repetitivo) de um dedo a percorrer o bordo de um copo de vidro. Lucas, que descreve esta música como a perfeita "sugestão de uma linha simultaneamente infinita e circular”, emprega-a como uma espécie de ativador das peças — no silêncio elas estariam como que "adormecidas” — o que contribui decisivamente para alterar as vivências dos corpos no espaço e a sua relação com as linhas suspensas.


Exposição organizada pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves e comissariada por Ricardo Nicolau, adjunto do diretor do Museu.


Imagem: Espírito Manual, 2017, Dayana Lucas, Marcador preto sobre papel A4

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