HUGO CANOILAS
PÓLIPOS CNIDÁRIOS REPARADOS PELO OLHAR DO OBSERVADOR
Especificamente
concebida para a sua Galeria Contemporânea, a primeira exposição de Hugo
Canoilas (Lisboa, 1977) no Museu de Serralves confirma e expande algumas das
preocupações que melhor definem a prática deste artista: a especulação sobre as
relações entre arte e realidade (eventos políticos e sociais), a interrogação
sobre as características e limites da pintura, e a ênfase conferida ao trabalho
colaborativo. Com formação em pintura, Canoilas tem vindo a examinar o lugar
deste meio artístico, a forma como ele é percecionado quer por visitantes de
museus quer por transeuntes (o artista é conhecido por intervenções no espaço
público que nunca são anunciadas como obras de arte). No caso desta exposição
em Serralves, Canoilas prescinde do lugar onde mais naturalmente esperamos ver
pinturas – as paredes da galeria –, e decide intervir no chão, no rodapé e no
teto da Galeria Contemporânea – espaços negligenciados por quase todas as
exposições de pintura.
No chão
apresentam-se três peças em vidro colorido que representam medusas. Realizadas
na Marinha Grande, estas águas-vivas – possíveis símbolos do aquecimento
climático, mas também das ideias de informe e de metamorfose na origem de
vários trabalhos de Hugo Canoilas – devem poder ser pisadas pelos visitantes da
exposição. O protagonismo conferido ao solo é confirmado pelo rodapé-pintura
(em forma de caixa de luz, com uma pintura em linho no exterior esticada como
uma tela, delimitando o espaço da exposição), em que o artista dá visibilidade
a um elemento arquitetónico tão comum quanto despercebido. Já no teto da sala,
Hugo Canoilas criará uma pintura gestual que, à imagem das suas mais recentes
pinturas abstratas, parte de imagens da flora e fauna do fundo do mar.
Saliente-se que a pintura também funciona como uma caixa de luz que cria uma
aura na sala, afetando a perceção das medusas.
As medusas são
animais fascinantes, que ao longo dos seus invulgares ciclos de vida passam por
várias metamorfoses, reproduzem células de formas inusitadas. A sua observação,
que testemunha variações dramáticas de configuração, desafia todas as conceções
de estabilidade, todas as ideias sobre a relação entre partes e integralidade.
Exatamente como esta exposição de Hugo Canoilas, composta de três elementos
distintos – chão, rodapé e teto – que se afetam mutuamente (em cooperação,
simbiose competição, predação e parasitismo) e que é exemplar de uma prática
artística que não se cristaliza numa forma, mas que constantemente se interroga
nos seus limites, funções e pressupostos.
Mecenas da Exposição
Galeria da Imagens
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