NALINI MALANI

UTOPIA!?

Museu
19 DEZ 2020 - 29 AGO 2021
2012 Nalini Malani


ROTEIRO DA EXPOSIÇÃO

NALINI MALANI: A ARTE DA CITAÇÃO ENQUANTO ATIVISMO por Ana Cristina Mendes

Esta será a primeira exposição em Portugal da celebrada artista indiana Nalini Malani (Carachi, Índia indivisa, 1946). Amplamente conhecida pelas suas pinturas e desenhos, a mostra em Serralves mostra uma faceta do seu trabalho igualmente relevante mas com que os públicos estão porventura menos familiarizados, apresentando exclusivamente as suas animações desenvolvidas entre finais dos anos 1960 e a atualidade.


Foi no final da década de 1960, numa cena artística indiana dominada por homens, que Nalini Malani emergiu como uma voz provocatória e feminista, igualmente pioneira no trabalho com meios artísticos como o cinema experimental, o vídeo e a instalação. Além de dar voz às mulheres, a artista sempre se destacou como uma artista preocupada com questões sociais, conferindo protagonismo aos marginalizados através de histórias visuais (animações, nomeadamente) que exploram temas como o feminismo, a violência, as tensões raciais e os legados pós-colonialistas.


As animações reunidas na exposição em Serralves, realizadas entre 1969 e 2020, foram agrupadas sob o signo da Utopia (este é aliás o título da mais antiga obra apresentada), relacionando-se, por um lado, com o sentimento utópico que se seguiu à independência da Índia e, por outro, com a desilusão em relação àquilo que o país se tornaria, governado por regras ditadas pela ortodoxia religiosa. De qualquer forma, os trabalhos de Malani transcendem os traumas nacionais para tratarem injustiças sociais globais. É o caso da grande instalação imersiva que encerra a exposição, composta por nove projeções vídeo de animações e frases. Can You Hear Me?, embora tenha partido de uma violenta história passada na Índia, a morte violenta de uma criança, é uma ode a todos aqueles que não têm voz. Realizada entre 2017 e 2020, a instalação é composta por animações em que se sobrepõem imagens realizadas pela artista e fragmentos de citações de escritores tão influentes como Hannah Arendt, James Baldwin, Bertolt Brecht, Veena Das, Faiz Ahmad Faiz, Milan Kundera, George Orwell e Wislawa Szymborska. Segundo a artista, Can You Hear Me? corresponde ao tipo de animação a que se tem dedicado mais recentemente, a que chama cadernos de notas [notebooks] e que são realizados digitalmente num iPad. Malani já afirmou: “Quando eu vejo ou leio alguma coisa que captura a minha imaginação, tenho a necessidade de reagir através de um desenho ou de desenhos em movimento. Não exatamente na sua forma mimética mas mais como uma ‘Memória Emoção’. Sinto-me como uma mulher com pensamentos e fantasias que são disparados da sua cabeça. Cada um deles pode conter ideias diferentes e não parecerem ser da mesma pessoa. Cada uma dessas vozes na minha cabeça precisa portanto de uma diferente caligrafia[RN1] .”

 

A exposição em Serralves acontece na esteira da atribuição à artista de uma das mais prestigiantes distinções no mundo da arte contemporânea: o Prémio Joan Miró 2019. Na sua sétima edição, o prémio organizado pela Fundació Joan Miró e a Fundação “la Caixa” possibilitou a Nalini Malani a apresentação em 2020 de uma exposição monográfica na Fundació Joan Miró, no âmbito da qual aconteceu uma conversa entre a artista e William Kentridge, o artista sul-africano celebrizado pelas suas instalações que, à imagem das animações que Malani apresenta em Serralves, utilizam vídeos com desenhos em movimento para confrontarem os espectadores com a vida dos silenciados, injustiçados e carenciados. Porque esta conversa ajuda a esclarecer as motivações da artista por detrás das obras que compõem UTOPIA!?, disponibilizamos o link da Fundació Juan Miró e ainda uma conversa entre a artista e Emily Butler, curadora da Whitechapel Gallery (Londres), que apresenta neste momento (entre 23 de setembro de 2020 e 6 de junho de 2021) a instalação Can You Hear Me? como parte do seu prestigiado programa anual de encomendas artísticas.

2012 Nalini Malani

Mecenas da exposição

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