João Vieira
Da Coleção de Serralves | Palácio da Bolsa
João
Vieira (Vidago, 1934 ― Lisboa, 2009), artista incontornável no panorama
artístico nacional desde o final dos anos 1950, afirmou-se não só no campo da
pintura, mas também como um dos precursores da performance e da instalação em
Portugal. O seu trabalho é marcado pela exploração plástica da letra como
símbolo pictórico, transformando o texto em imagem. Se na sua pintura investe
na gestualidade e expressão da forma caligráfica, nas suas instalações, “happenings”
e objetos utiliza as letras do alfabeto como elementos performativos capazes de
questionar os códigos da linguagem de forma radical e subversiva.
Nesta mostra no Palácio da Bolsa são
apresentadas duas obras icónicas do início dos anos 1970 que expandem a
investigação do artista em torno de signos linguísticos para lá do campo da
pintura. Caixa Branca (1971) propõe criar, a partir do acaso e
com a participação do público, uma nova linguagem. A obra contém um sistema rudimentar
de lâmpadas e interruptores através do qual as letras do alfabeto podem ser
acesas ou apagadas, ao sabor da invenção lúdica de novas palavras e sintaxes.
A obra “A” grande (1970)
constitui o único vestígio conservado e restaurado por Vieira da sua primeira
performance, intitulada O espírito da letra. Nesta
“ação-espetáculo” apresentou uma série de letras de grande formato que foram posteriormente destruídas
pelo artista e por um conjunto de crianças. Ao romperem com os limites da pintura bidimensional, as letras de
Vieira ganharam corpo e estabelecem uma confrontação física com os espectadores
e com os agentes da destruição performativa, deixando subentendida uma crítica
à linguagem enquanto suporte do discurso.
Estas obras históricas são
apresentadas no Palácio da Bolsa no âmbito do programa nacional de itinerâncias
da Coleção de Serralves, que tem por objetivo tornar o acervo da Fundação
acessível a públicos diversificados de todas as regiões do país.
Produção: Fundação de Serralves —
Museu de Arte Contemporânea, Porto
Fotografia: Filipe Braga