GONÇALO PENA
BARBER SHOP
A exposição
de Gonçalo Pena, Barber Shop..., vulgo ‘Barbearia’ em português...,
segue as investidas fictícias meta-metafóricas de um cidadão cuja ocupação é
ser barbeiro na terra de bárbaros lusitanos. À semelhança de outros
esteticistas, tal amanuense da tesoura e do pente nutre pelas belas-artes como
pelos bons costumes a maior das considerações esforçando-se por nunca desfear
nem maltratar um freguês. Infelizmente, nem sempre tal é possível. Como se
sabe, uns há que são perpetuamente feios, outros que qualquer mise os faz
belos, e outros que são sempre assim-assim. Claro está! nem todo o freguês fica
bem na fotografia. Um homem do pêlo tem de fazer pela vida, mas sem ovos não se
confecionam rabanadas. A exposição junta uma súmula dos recentes anos de
desenhista do artista. São desenhos sobre as más e bem parecenças, externas e
internas, da nossa humilde Lusitânia freguesia e vizinhança. Uns a lápis de
cor, outros a grafite, também os há a tinta chinesa. Se o visitante se der ao
trabalho, um ou outro desenho têm o que se leia, até porque o artista gosta de se
comentar a si próprio e fá-lo com jeito e graça. Noutros, mal se reconhece o
que ali está representado, é quase abstrata a estética da obra. Se nos
visitarem no verão é certo que verão: porcos bísaros e chouriças, um cavalheiro
em gestação, as barbas persas do diabo, focas cujos óculos não focam, a língua
áspera da lua, um génio do cigarro e não da lâmpada, o vento meteórico dos
indígenas das índias, o crescente fértil, a ponta venérea da flecha de cupido,
a rainha branca e o rei do gelo, um canalha cobói e um cangalho, um tigre a
dormir outro assustador e outro que gosta de canja de galinha, uma vitamina
chamada aspirina, um enfermo dois enfermos três enfermos e uma enfermeira,
vários estilos de alopecia e perucas e bigodaças façanhudas, um rato-queijo, um
gelado mal disposto, agora sim, um génio da lâmpada lamparina, chapéus em forma
de tetina, uma lista de génios germânicos e de fidalgos sábios franceses, um
deus dois deuses muitos deuses, um cabaz das Caldas, o reflexo num espelho
estilhaçado, o tico e o teco, um rato na toca, dois limões, uma ilha de melões
meloas e melancias, o senhor falópio, a pipi das meias altas, o abominável alce
das neves, a zebra de Tróia, a Celeste, essa jovem reacionária, as diferenças
entre o papá português e o papá estrangeiro, um pénis prismático do espaço, etc
e tal... enfim, 10.000 anos de vandalismo, a barbárie!
A
exposição é libertária,
mal era que não fosse.
Oxalá,
se conseguirem, venham ver.
Com curadoria de João Maria
Gusmão.
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