MARK BRADFORD: Ágora
ROTEIRO DA EXPOSIÇÃO
Mark Bradford (Los Angeles, 1961) é atualmente reconhecido como um dos nomes que melhor definiu a pintura das duas últimas décadas, concebendo a sua própria linguagem pictórica para falar de temas universais, como a distribuição do poder nas estruturas sociais e o seu impacto no indivíduo ou a relação entre arte e envolvimento comunitário. No seu trabalho, o elemento social é dado através da sua escolha de materiais. Recorrendo a materiais do quotidiano e a ferramentas que se encontram em lojas de ferragens, Bradford criou uma linguagem artística única. Frequentemente designado como “abstração social”, o seu trabalho baseia-se no entendimento de que todos os materiais e técnicas estão impregnados de um significado que antecede o seu aproveitamento artístico. O seu estilo próprio evoluiu a partir da experimentação com materiais para permanentes, os papéis pequenos e translúcidos usados em cabeleireiros, mas desde então alargou-se a outros tipos de papéis, incluindo mapas, outdoors, cartazes de cinema, livros de banda desenhada e anúncios comerciais de rua que publicitam serviços predatórios em bairros economicamente frágeis. Através desta abordagem rigorosamente física à presença material da pintura, Bradford tem tratado questões cruciais do nosso tempo, como a epidemia de SIDA; a representação deturpada e o medo da identidade queer e homossexual; o racismo sistémico nos Estados Unidos; e mais recentemente, a crise decorrente da Covid-19.
Centrada na produção artística de Bradford dos últimos três anos, para quem a mitologia da Antiguidade tem sido desde sempre uma fonte de inspiração, a exposição apresenta pela primeira vez uma nova série de pinturas, tapeçarias e trabalhos sobre papel baseados em A caça do Unicórnio, um conjunto de tapeçarias produzido nos Países Baixos por volta de 1500, e Cérbero, o cão de três cabeças que guarda a entrada para o Inferno e o mundo subterrâneo, sugerindo assim um paralelismo entre questões atuais e a Idade Média (o período em que a arte caiu refém da peste, o mais medieval de todos os perigos). Ágora pretende ser um espaço de reflexão e discussão da atualidade, partindo do trabalho de Bradford e recorrendo aos tempos medievais como metáfora para as tensões sociais e os conflitos contemporâneos.
Organizada pela Fundação de Serralves, com curadoria de Philippe Vergne e assistência de Filipa Loureiro, Ágora pretende ser um espaço de reflexão e de discussão do hoje, tomando o trabalho de Bradford por ponto de partida para entender a época medieval enquanto metáfora incisiva das tensões sociais e dos conflitos da contemporaneidade.
Esta exposição contou com o generoso apoio de Shari and Ed Glazer, Gwen Moritz Weil e Hauser & Wirth Gallery.
Imagem:
© Mark Bradford
Courtesy the artist and Hauser & Wirth
Photo: Joshua White