Domingos na Casa do Cinema: Manoel de Oliveira Espectador

Auditório da Casa do Cinema Manoel de Oliveira
4 FEV - 14 ABR 2024

O acesso ao Auditório da Casa do Cinema é feito pela Rua de Serralves nº 873, 30 minutos antes do início da sessão.

Domingos na Casa do Cinema: Manoel de Oliveira Espectador

"Sete Anos de Pouca Sorte" (Max Linder, 1921)

Revisitando alguns dos filmes que marcaram Manoel de Oliveira enquanto espectador, este ciclo oferece uma panorâmica através das suas referências cinéfilas, começando pelas mais remotas. Quando, pouco antes da Primeira Guerra Mundial, o jovem Oliveira foi pela primeira vez ao cinema, não tinham ainda decorrido sequer vinte anos sobre a primeira sessão pública do cinematógrafo Lumière, apresentado em Paris em finais de 1895. Se a linguagem balbuciante daquela que viria a ser a “sétima arte” estava ainda em formação, muitos desses filmes que marcaram os primórdios do cinema foram, também, para Oliveira, formativos do seu olhar como cineasta. Outros, mais recentes, revelam afinidades eletivas com obras e realizadores que, nalguns casos e de diferentes maneiras, assumiram, como o próprio Oliveira, o desafio de pôr à prova tanto as fórmulas cristalizadas pelo cinema clássico como os expedientes estéticos que foram definindo o cinema moderno.


É sabido que uma das singularidades da relação de Oliveira com o cinema, seja como espectador ou realizador, se prende com a extraordinária longevidade do seu percurso. Tendo atravessado mais de um século e produzido uma filmografia que, iniciada em 1931, se desenvolve ao longo de mais de oito décadas de trabalho ‑ acompanhando, por isso, a passagem do mudo ao sonoro, do preto e branco à cor, da película ao digital... –, a obra de Oliveira sintetiza cumulativamente toda história do cinema, do mesmo modo que a sua experiência espectatorial resume o que pode entender-se como uma história da cinefilia.


Esta primeira revisão das preferências cinematográficas de Manoel de Oliveira, sendo forçosamente pessoal e lacunar, traduz bem o gosto eclético de um realizador que, tendo visto de tudo (e tudo tendo visto acontecer), terá percebido melhor do que ninguém a tensão entre o transitório e o imutável, entre o passadismo técnico, a efemeridade das modas e a persistência do que nos define como humanos. A seleção de dez filmes que se apresenta neste ciclo vai do burlesco cómico de Max Linder, em Sete Anos de Pouca Sorte (1921), ao vanguardismo político de Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha; do modernismo de A Desumana (1924), de Marcel L’Herbier, até As Noites de Cabíria (1957) de Federico Fellini, esse “hino à vida”, como lhe chamou Oliveira; do asceticismo de Mouchette (1967) de Robert Bresson, ao lirismo de Abbas Kiarostami e do seu O Vento Levar-nos-á (1999). Além das possíveis relações que possam estabelecer-se entre estes títulos e os filmes que Manoel de Oliveira realizou ou viria a realizar, estamos aqui perante uma autêntica e muito pessoal história do cinema. Uma dialética entre o gosto pessoal do realizador e a obra que o próprio criou, prova provada e demonstração cabal da indissociabilidade entre o ver e o fazer.


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