JOÃO MARIA GUSMÃO e PEDRO PAIVA
Terçolho
Imagem: Filipe Braga
Roteiro da Exposição
“Terçolho” é a
mais completa exposição até à data de João Maria Gusmão (Lisboa, 1979) e Pedro
Paiva (Lisboa, 1977), abrangendo o seu trabalho em filme, fotografia, escultura
e instalação realizado ao longo de quase duas décadas.
Um hordéolo,
vulgarmente conhecido como terçolho, é uma inflamação ocular que causa hipersensibilidade
à luz e a sensação de um corpo estranho no olho. Quando de grandes dimensões,
pode interferir com a visão e a perceção da realidade. O título da exposição é prenúncio
de uma experiência sensorial alargada e paracientífica no percurso agora
proposto pela obra desta dupla internacionalmente reconhecida.
Pensada como
se de uma instalação de grande escala se tratasse, a exposição tem por base uma
ideia caleidoscópica de exposições dentro de exposições: as imagens desdobram-se
em impressões fotográficas, em esculturas de bronze e em múltiplas projeções
sem som ao longo das galerias e da garagem do museu. A presença física dos
projetores de 16 mm, a sua disposição e o ruído dos seus mecanismos assumem
sempre um protagonismo incontornável nas exposições de Gusmão e Paiva, criando
um forte impacto e uma grande envolvência com o espectador.
Entre 2001 e
2019 João Maria Gusmão e Pedro Paiva colaboram na exploração de campos de
pesquisa plástica diversificados, desenvolvendo uma investigação que se poderia
chamar naturalista. A sua obra apresenta-se como um laboratório de
experimentação em que são questionados o conhecimento empírico, a metafísica
existencial e os limites da perceção do real. Nos seus trabalhos são
privilegiados os processos paradoxais e a convocação do inconsciente, através
do recurso ao nonsense e ao absurdo e da criação de situações improváveis, em
jogos de ocultação e revelação que exploram as ambivalências dos processos analógicos
e de comunicação visual. A dupla descreve o seu projeto global como uma espécie
de “metafísica recreativa”.
Por ocasião da
exposição, e em associação com a
editora/distribuidora Mousse Publishing, será
publicado um novo projeto editorial que documenta o percurso artístico da dupla, dedicando
particular atenção à sua produção discursiva. Os ensaios
inéditos de Chris Fitzpatrick (curador independente, anteriormente diretor de
Objectif Exhibitions, Antuérpia, e do Kunstverein München, Munique) e de
Anthony Huberman (diretor e curador-chefe do CCA Wattis Institute, San
Francisco) refletem sobre a obra dos artistas que, combinando registo
antropológico, drama e pesquisa científica, se apresenta como uma investigação
do insondável, uma forma de conhecimento heterodoxo que se materializa em
“ficções poéticas e filosóficas”. O livro inclui ainda uma generosa antologia
de escritos dos artistas.
João Maria Gusmão e Pedro Paiva participaram em várias bienais
internacionais nomeadamente, em 2006, na 27ª Bienal de São Paulo (Brasil); em
2007, na 6ª Bienal do Mercosul, Porto Alegre
(Brasil); em 2008, na Manifesta 7(Itália); em 2009 representaram Portugal na
53ª Bienal de Veneza (Itália); em 2010, na 8ª Bienal de Gwangju (Coreia do Sul);
em 2013, na mostra central da 55ª Bienal de Veneza (Itália) — O Palácio
Enciclopédico com curadoria de Massimiliano Gioni. De entre as mostras
individuais destacam-se em 2014, Papagaio no HangarBicocca, Milão (Itália);
em 2015, The Missing Hippopotamus no Kkv Kolnischer Kunstverein, Colónia (Alemanha);
em 2016, Capsule 05 / João Maria Gusmão & Pedro Paiva: Peacock na
Haus der Kunst, Munique (Alemanha); em 2017, Animais que ao longe parecem
moscas no Centro de Arte Oliva, São
João da Madeira (Portugal); em 2018, Lua Cão (com Alexandre Estrela) na
La Casa Encendida, Madrid (Espanha) e no Kuntsverein München em Munique (Alemanha).
A exposição
tem curadoria de Marta Moreira de Almeida e Philippe Vergne e coordenação de
Filipa Loureiro.
Mecenas da Exposição