Retrospetiva Straub-Huillet

Auditório da Casa do Cinema Manoel de Oliveira
24 SET 2023 – 28 JAN 2024 | 17:00

O acesso ao Auditório da Casa do Cinema é feito pela Rua de Serralves nº 873, 30 minutos antes do início da sessão.

Retrospetiva Straub-Huillet

© Richard Dumas

“Se não tivéssemos aprendido a fazer filmes, eu teria feito bombas”

– J.-M. Straub


Esta retrospetiva dedicada à dupla de cineastas franceses Jean-Marie Straub (1933-2022) e Danièle Huillet (1936-2006), a primeira integral desde que a filmografia ficou fechada com o recente desaparecimento do cineasta, é um convite a rever ou a descobrir, pela ordem cronológica da sua realização, um corpo de filmes que, sendo bicéfalo na sua origem, é também um dos universos autorais mais singulares da história do cinema e uma das traves-mestras do cinema moderno. Todas as sessões desta retrospetiva serão apresentadas por diferentes convidados que, a partir de pontos de vista e enquadramentos disciplinares muito diversos, abrirão pistas de leitura sobre a obra. O programa completa-se com uma seleção de filmes que, pela voz dos próprios realizadores, nos dá acesso à intimidade dos seus processos de trabalho. 


Contando cerca meia centena de títulos realizados ao longo de mais de sessenta anos de trabalho, o percurso de Straub-Huillet iniciou-se na República Federal da Alemanha, no começo dos anos 1960, passando depois por Itália e por França. A obra que aí criaram centra-se intensamente nos contextos culturais, históricos e geográficos onde filmaram, traduzindo um grande interesse pela palavra e pelas diferentes línguas com que trabalharam (alemão, francês, italiano, inglês), sendo igualmente alimentada pela apropriação de outras obras (literárias, musicais, pictóricas) produzidas por um conjunto muito heterogéneo de autores que nunca se cansariam de revisitar.


Straub e Huillet são, por isso, autores de um cinema verdadeiramente pan-europeu, onde o interesse pela antiguidade clássica convive com a revisão crítica dos ideais marxistas, com a reanimação de textos esquecidos, com a atenção obsessiva às variações da luz sobre a paisagem, à entoação das palavras pelos atores, aos gestos, aos sons ambiente. Mas este é, também, um cinema onde, em oposição à razão antropocêntrica e aos imperativos do progresso, se formaliza uma “utopia comunista” que só pode ser entendida no quadro de uma proposta de comunhão com o mundo, como paridade de todas as coisas, como síntese entre o marxismo e a ecologia, numa época em que os movimentos ambientalistas não tinham ainda grande expressão pública. Um cinema que nivela, pelo mesmo horizonte de atenção e reverência, o cuidado que dedica a filmar uma montanha, uma pedra, um ator, uma árvore, a terra, um vale ou uma clareira, um texto, uma peça musical, um inseto, ou qualquer outra coisa chamada a comparecer diante da câmara. Um cinema que, evitando inflacionar as imagens, olha para todo e para cada um destes objetos, procurando o que neles é único tanto quanto aquilo que todos partilham aqui e agora e que corresponde, portanto, àquilo que têm em comum (eis o comunismo revolucionário de que aqui se trata): o todo não é a soma das partes, é a comparticipação igualitária de todas elas nessa unidade irredutível a que chamamos mundo.


Paralelamente, a Casa do Cinema Manoel de Oliveira terá patente uma exposição relativa a Jean-Marie Straub e Danièle Huillet.

serralves.pt desenvolvido por Bondhabits. Agência de marketing digital e desenvolvimento de websites e desenvolvimento de apps mobile