DOMINGOS NA CASA DO CINEMA: O QUE É UM AUTORRETRATO?
Todos os filmes serão apresentados na sua língua original e legendados em português.
Por motivos de força maior o programa poderá ser alterado.
Acesso
Bilhete (1 sessão): 3€
Estudante/Jovem, Maiores de 65 e Amigos de Serralves: 1,5€
O acesso ao Auditório da Casa do Cinema é feito pela Rua de Serralves nº 873, 30 minutos antes do início da sessão.
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"Tentatives de se décrire" (2005), Boris Lehman
CICLO DE CINEMA E CONFERÊNCIA
DOMINGOS NA CASA DO CINEMA
O QUE É UM AUTORRETRATO?
15 JAN – 05 MAR
Auditório da Casa do Cinema Manoel de Oliveira
Ao longo da história do cinema, vários foram os criadores que viraram a câmara para si e para o seu quotidiano, descobrindo nos seus rostos, nas suas memórias, famílias ou bairros os reflexos de um tempo, de uma sociedade ou de uma atitude política e estética. Inscrevendo-se no campo da intimidade e recorrendo, frequentemente, ao discurso na primeira pessoa, o autorretrato fílmico não pressupõe, no entanto (como a autobiografia ou o diário filmado), a narração de uma história de vida, mas a autorrepresentação do artista no ato de criação, o questionamento do seu próprio trabalho e da sua relação com este. A intimidade que está aqui em causa não resulta tanto de se proporcionar o acesso ao privado, mas de permitir ao espetador privar, em tempo real, com o próprio processo da elaboração discursiva – da fabricação do filme e do confronto com os instrumentos do seu labor –, o que, como o resume Muriel Tinel, faz do autorretrato fílmico uma forma de cinema em ação. O autorretrato filmado é, por isso, além de um retrato do próprio cineasta, um retrato do cinema (enquanto processo e enquanto medium).
Este é um cinema feito de forma singular (nos dois sentidos da palavra), quase sempre doméstico, muitas vezes despojado e confessional. É, também, um cinema do tempo, na medida em que tende para a distensão dos períodos de rodagem, que se confundem com os da vida. Só que, na sua aparente confidencialidade, este é um registo que se oferece facilmente à ocultação, ao enigma, à encenação
ou à dissociação. Uma das figuras que mais questionou os limites da autorrepresentação foi Manoel de Oliveira que, a partir dos anos 1980, começou a figurar nos seus próprios filmes quando não mesmo a filmar a sua história pessoal como pretexto para desvendar as suas convicções cinematográficas, de um modo muito particular em títulos como Visita ou Memórias e Confissões (1982-2015)
ou Porto da Minha Infância (2001) e, de forma mais subtil e cifrada, em filmes como Viagem ao Princípio do Mundo (1997) ou Cristóvão Colombo, o enigma (2007).
Na sequência da exposição Agnès Varda: Luz e Sombra, um dos nomes maiores do cinema diarístico e autorreflexivo, e em diálogo com o trabalho da fotógrafa norte-americana Cindy Sherman (que recusa liminarmente a aproximação da sua produção fotográfica à tradição do autorretrato), a Casa do Cinema apresenta um ciclo de cinema que incide sobre as múltiplas abordagens que concorrem num mesmo gesto e definem, na sua irredutível diversidade, os contornos do que poderá aproximar-se de um género, codificado ao longo de séculos no domínio da pintura, mais fluído no campo do cinema: o autorretrato filmado. Este é um programa que se apresenta em contraponto com a omnipresença das autorrepresentações em meio digital (vulgo, selfie), propondo uma série de filmes que desfazem a codificação do Eu, pondo em causa a estabilidade das próprias identidades e suas representações. Do exercício projetivo de Terrence Davies, ao exercício rememorativo de Oliveira, passando pela autodepreciação de Fellini, pelo olhar confrontacional de Akerman, pela especularidade reflexiva de Godard ou pela deambulação temporal e espacial de Regina Guimarães, Alan Cavalier, Boris Lehman ou Jonas Mekas, para os quais o verbo filmar e viver se equivalem, este é um ciclo que procura interrogar o modo como esta prática foi sendo explorada, entre a autoparódia e a mitificação.
CONFERÊNCIA
27 FEV | SEG | 19:00
AUTORREPRESENTAÇÃO E CO-REPRESENTAÇÃO NO CINEMA
A POLÍTICA DAS FORMAS E AS FORMAS DA POLÍTICA
Conferência de Raquel Schefer
Professora, Investigadora e realizadora
CICLO DE CINEMA
15 JAN | DOM | 17:00
DEATH AND TRANSFIGURATION
Terrence Davies
UK | 1983 | 30 min.
PORTO DA MINHA INFÂNCIA
Manoel de Oliveira
PT, FR | 2001 | 61 min.
22 JAN | DOM | 17:00
INTERVISTA
Federico Fellini
IT | 1987 |105 min.
29 JAN | DOM | 17:00
3 CURTAS-METRAGENS DE CHANTAL AKERMAN
SAUTE MA VILLE
LA CHAMBRE
PORTRAIT D'UNE PARESSEUSE
BE, EUA, FR, GR | 1968-1986 | 32 min.
JLG/JLG – AUTOPORTRAIT DE DECEMBRE
Jean-Luc Godard
FR | 1994 | 62 min.
05 FEV | DOM | 17:00
6 CADERNOS DE REGINA GUIMARÃES
CADERNO DO PASSEIO DE CIMENTO
CADERNO DA CIRURGIA
RUA A B
URSAS MENORES
NUS DANS LA CAGE D’ESCALIER (co-real. Saguenail)
A ÚLTIMA FITA
PT | 2010-2017 | 70 min.
12 FEV | DOM | 17:00
A MÃO
Ângelo de Sousa
PT | 1976 | 7 min.
LE FILMEUR
Alain Cavalier
FR | 2005 | 97 min.
19 FEV | DOM | 17:00
TENTATIVES DE DÉCRIRE
Boris Lehman
BE | 2005 | 165 min.
26 FEV | DOM | 17:00
2 PERFORMANCES PARA A CÂMARA DE BRUCE NAUMAN
DANCE OR WALK ON THE PERIMETER OF A SQUARE
PULLING MOUTH
EUA | 1967-1969 | 16 min.
THIS IS NOT A FILM
Jafar Panahi, Mojtaba Mirtahmasb
IR | 2011 | 75 min.
05 MAR | DOM | 17:00
SELF-PORTRAIT N.1 & N.2
Cécile Fontaine
FR | 1982 |6 min.
A LETTER FROM GREENPOINT
Jonas Mekas
EUA | 2005 | 79 min.