NA PAISAGEM, COLECÇÃO DA FUNDAÇÃO DE SERRALVES

MUSEU DE AVEIRO
15 JUL 2002 - 07 DEZ 2003

A relação entre Arte e Paisagem foi sempre ao longo da História da Arte um estímulo para a criação artística e para a expressão de uma relação idiossincrática dos artistas com o mundo em que vivem. Essa relação será muitas vezes de confronto, outras vezes toma o lugar da representação, do diálogo e da busca de correspondências. A Arte Contemporânea tem protagonizado momentos particulares desta relação que transformaram inclusivamente os próprios conceitos de objecto de arte, de lugar e de paisagem, como se poderá constatar nesta selecção de obras de artistas portugueses e estrangeiros existentes na Colecção da Fundação de Serralves.
As obras de arte apresentadas interrogam a realidade exemplificando diferentes “modos de ver”. O percurso pela exposição permite confrontar diferentes propostas artísticas, as quais, apesar de uma diversidade estética, traduzem uma modificação da relação da arte com a natureza e o mundo.
Nas obras de Manuel Casimiro, Dan Graham, Peter Hutchinson, Richard Long, Dennis Oppenheim, Vítor Pomar, Robert Smithson, Bernd e Hilla Becher sobressai um particular modo de intervenção directa do artista na paisagem, surgindo esta como suporte e material dos seus trabalhos. O desenho, os mapas, os textos e a fotografia aparecem como registos utilizados nas suas intervenções, as quais sublinham a sua dimensão aberta, ilimitada e efémera. Os projectos de Robert Smithson procuram ultrapassar as limitações da escala humana propondo alterações através de construções feitas pelo homem na natureza, o que se traduz numa série de investigações acerca do tempo e do lugar. Em Dennis Oppenheim, a perspectiva aérea é utilizada e sugerida ao espectador, rompendo as fronteiras de olhar sobre o mundo.
A fotografia levanta o paradoxo entre o real e o artificial, pois foi abandonada a sua condição de registo para se tornar numa forma específica de configurar a própria realidade, transformando as condições da sua percepção, como acontece com Fernando Calhau. As fotografias de Fernando Calhau transformam o olhar sobre o real num acontecimento que, ao ser captado, afecta a percepção e o significado a atribuir ao que se vê.
O uso do filme como registo da intervenção do artista na paisagem, assim como a exploração de um novo suporte para a construção de um olhar diferente sobre a realidade exterior, torna-se visível nos trabalhos de Gordon Matta Clark, Juan Downey, David Haskevold, Dennis Oppenheim, Gerry Schum, Robert Smithson e Ângelo de Sousa projectados em vídeo na exposição. 
Julião Sarmento contribui para uma redefinição do quadro e da pintura nos seus cruzamentos com novas linguagens representacionais e conceptuais, transformando-se numa materialização conceptual dos seus referentes. 
Nas obras de Lothar Baumgarthen, Alberto Carneiro e Maria Nordman encontra-se uma redefinição do objecto escultórico através da evidência do processo da sua realização, da construção do lugar em função de um conceito e de um programa de actuação ou ainda da modificação das relações entre espaço interior e exterior. Baumgarten constrói uma paisagem a partir do confronto com a descoberta de outras culturas e geografias; Alberto Carneiro relaciona arte e natureza a partir da mediação do seu corpo, reinventando os sentidos possíveis de uma apropriação e transformação do natural pelo humano; Maria Nordman apresenta os registos de acções e de espaços definidores de uma nova proposta de arquitectura cúmplice das relações humanas com o mundo.
Qualquer que seja o modo de ver assumido pelo artista ou a sua concretização no trabalho realizado, o confronto entre a percepção e o entendimento, entre as sensações e o filtro da razão configura o desafio ao espectador nas várias expressões artísticas presentes na exposição. Cada obra torna-se deste modo um exemplo da projecção da reflexão do artista sobre o lugar, redefinido este em função de um ponto de vista individual e de uma contínua redefinição dos sentidos possíveis das suas coordenadas espácio-temporais. 

Comissariado: Marta Moreira de Almeida 

Programa Operacional da Cultura
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