MANOEL DE OLIVEIRA/JOSÉ RÉGIO

Centro de Memória de Vila do Conde

O encontro de Manoel de Oliveira e de José Régio constitui, em toda a reciprocidade, um dos acontecimentos mais profícuos e determinantes do percurso dos dois autores. A influência de José Régio sobre Manoel de Oliveira é, no que respeita à incursão pela literatura, manifesta e duradoura, exercendo-se tanto pela sua própria produção romanesca e teatral como através dos escritores que aconselha ao cineasta, numa prescrição que se prolonga e acentua pelos quarenta anos que já decorreram desde a sua morte. O fantasma de Régio tornar-se-ia, assim, a partir da década de 1970, numa das pedras de toque do cinema de Manoel de Oliveira.
Se José Régio se apresenta como um dos ângulos mais incisivos na abordagem da obra de Manoel de Oliveira, no sentido inverso, talvez o cinema de Oliveira seja hoje a via privilegiada para se aceder a Régio. A contra-corrente do esquecimento a que a crítica contemporânea parece ter votado a figura de José Régio, Manoel de Oliveira não só tem contrariado opinião dominante como tem sabido transfigurar e recontextualizar o universo regiano, oferecendo perspectivas renovadas que trazem para o presente muitos dos seus textos.
O que se propõe na presente exposição é, por isso, um percurso que aflui no confronto entre Manoel de Oliveira e José Régio, entendido como releitura, convergência de questões e, sobretudo, diálogo criativo que não pode ser desligado de outros referentes como Camilo Castelo Branco e Agustina Bessa-Luís. O primeiro, porque, introduzindo o pensamento sobre a portugalidade e uma crítica das instâncias reguladoras da moral, aliando o vírus do Romantismo a uma vocação realista, é o pano de fundo que por todo o lado transparece. A segunda, porque além de fornecer o antídoto para todos os romantismos, se empenhou em espelhar e desconstruir esse quadrado criativo em que participa.

Comissário: António Preto