UMA AMIZADE
KEEPING TALE OF CURRENT TIMES | JEAN-LUC GODARD - VISUAL WORK
Conversa com Elias Sanbar
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Elias Sanbar (nascido em Haifa, na Palestina, a 16 de fevereiro de 1947) é um dos mais importantes intelectuais palestinianos contemporâneos — historiador, ensaísta, tradutor, diplomata e figura central na construção de uma identidade cultural palestiniana moderna. Tanto a sua vida como a sua obra estão profundamente marcadas pela experiência do exílio, após a Nakba de 1948, que forçou a sua família a abandonar a Palestina e a viver entre o Líbano e a Europa. Radicado em França, Elias Sanbar tornou-se uma voz incontornável da diáspora palestiniana. Assumindo um compromisso inabalável com a justiça e a memória histórica, desempenhou um papel crucial como editor da Revue d'études palestiniennes (versão francesa do Journal of Palestine Studies), que dirigiu durante mais de 20 anos e que se tornou uma publicação de referência para uma reflexão profunda e multidisciplinar sobre a história, a cultura e a política palestinianas no contexto internacional. A sua obra escrita — onde se destacam títulos como La Palestine, le pays à venir (1996) ou Le Bien des absents (2001) — articula a memória coletiva palestiniana com uma visão crítica e poética do presente. Sanbar defende uma Palestina não apenas como entidade política, mas como ideia cultural, espaço afetivo e projeto inacabado. Foi também o tradutor para francês da obra de Mahmoud Darwich, o grande poeta nacional palestiniano, com quem manteve uma forte amizade, tornando-se um dos principais difusores da poesia palestiniana no mundo francófono. No plano diplomático, foi embaixador da Palestina junto da UNESCO, entre 2011 e 2021, tendo sido uma voz firme na defesa do património cultural e histórico palestiniano, face aos desafios de uma política internacional marcada por tensões e disputas sobre identidade e legitimidade. Desde 2016 tem sido um dos principais instigadores para a construção do futuro Museu Nacional de Arte Contemporânea e Moderna da Palestina, presidindo à associação que, desde o lançamento do projeto e em colaboração com Jack Lang e o Institut du Monde Arabe, tem vindo a reunir obras doadas por artistas árabes e europeus. Este projeto é, assim, um ato cultural que visa promover a solidariedade internacional para com a Palestina e contribuir para a afirmação da identidade cultural como uma realidade dinâmica. No seu percurso de vida e de pensamento, Elias Sanbar foi próximo do filósofo Gilles Deleuze, com quem partilhou reflexões sobre política, cinema e resistência, mas foi sobretudo com Jean-Luc Godard que estabeleceu uma amizade que data de finais dos anos 1960 e se prolongaria até ao desaparecimento do cineasta em 2022. A relação com Godard não foi uma simples troca de ideias e gostos partilhados, nem se resume à cumplicidade com que ambos se engajaram numa meditação contínua sobre imagem, memória, identidade e descolonização do olhar. Foi, nas palavras do próprio Sanbar, um diálogo existencial, marcado por uma exigência mútua de pensamento e afeto, à margem da nostalgia ou da anedota. “Sabes, nunca tive uma aldeia natal: a Palestina foi a minha aldeia.”, disse-lhe Godard uma vez, frase que Sanbar guarda como um dos mais belos reconhecimentos do sentido íntimo da sua luta.